quinta-feira, agosto 26, 2010

novos laços

com o tempo que passa e os remédios que vêm, a gente muda de casa, rearranja os móveis, arruma gavetas e guarda as coisas em outras caixas.


www.emoutrascaixas.blogspot.com


é um convite. (e um agradecimento)
e uma despedida.

h.

quarta-feira, agosto 18, 2010

Fantasma

“que é pra você ver que não é o único que se perde”


Deitado, eu olhava pra trás

e não parava de te ver

entrando no meu quarto

de porta fechada,

sombra na janela

que veio com o vento

e estendia a mão

pra ver se eu dormia

mas não encostava

porque desfazia

na luz

e com os olhos arregalados

eu sentava pra esperar um pouco

mas você não partia,

par de olhos fixos

do lado de lá da veneziana

e eu meio com medo

meio querendo te chamar

pro lado de cá

e você sem poder atravessar

mas eu queria

e você queria sem querer

e sem saber que eu não dormia

porque não sabia se você voltava

e queria saber seu nome

na ponta da sua língua

e eu não tinha o que dizer

então eu fechava os olhos

pra ver você chegar mais pra cá

e quando abria

você sempre desaparecia,

éramos sempre quase perto

quase sempre dois,

mas um de cada lado

e sem outro jeito,

num último esforço

escrevi pra você ler

pra ver se você não ficava

ou se voltava pra lá

pra onde eu nem sei onde

pra encontrar na cama

o silêncio do que você já conhece

e dormir com calma

talvez sem pensar em mim.



Henrique Rochelle

terça-feira, maio 04, 2010

Gostava

de você assim
dormente
quase alheio
com o olhar além
sobrevoando,
que eu lembrava
com o seu cheiro
em todas as minhas
coisas
e memórias,
e do seu toque
raro
e tão quente
na ponta dos dedos com
alguma coisa pra mim,
morder sempre um pouco
mais
ficar com os seus
pedaços e gosto
e eu torcia meus pés
pra ficar mais perto
de você assim
tenso
sério e considerando
com seus olhos
nos meus
quase dentro
e tão quente como a sua
mão no meu corpo
eu nunca sabia se
apressava
ou atrasava o toque
que eu queria
tanto
e queria tanto que
durasse mais
comigo inteiro
grudado embaixo
de você assim
de boca aberta e olhos
fechados
piscando
andando do meu lado
pra qualquer
lugar e motivo
que eu inventaria
pra te ver
pra te ouvir,
eu falando demais
cortando suas frases
você não me interrompia
as frases
só os pensamentos
que não seguiam
nunca
em ordem
porque eu só sabia
e me perdia
que gostava tanto
de você assim
mais eu
com tudo que eu
segurava
sem ser sua mão
que talvez
seja a última parte
em que eu encoste
e a que me
persegue
de dia e de noite
faz tanto
tempo,
desde que eu sabia
que gostava
de você, assim
num pretérito
narrativo
mas que na minha cabeça
é sempre
presente
contínuo







Henrique Rochelle

sexta-feira, abril 30, 2010

Mapas

Eu meio que deixei a mala ali, arrumada, no pé da cama, porque parecia que era mais difícil, muito mais difícil, ir tirando uma por uma as coisas que eu já tinha separado. Grandes viagens que eu não faria. E eu sentia como se tivesse um mapa aberto me indicando todas as direções e eu sem ter um lugar pra ir, levar uma bandeira e dizer que alguma montanha era minha, sem direito de verdade. Eu tinha uma vontade enorme de te chamar pra fugir comigo, porque você fazia todos os lugares mais claros, eu sempre tive medo do escuro e faltava luz no meu quarto que já não era nem meu. A minha cama com o seu cheiro roubado, sem você nunca ter nem encostado nela, me chamando pra deitar e dormir mal, dormir pouco, dormir triste, derrubar copos, estragar livros, destruir histórias, procurar sonhos que tenham caído pra baixo dela como animais de pelúcia, estofados e com os olhos vidrados parecendo os meus que eu não tirava de cima de você nem por um segundo, tão feliz por essa proximidade, sempre uma companhia pra eu levar depois na memória e trazer pra esse espaço todo que não é meu e que me dá medo de noite e de dia nunca tem sol nem nunca tem graça. Tinha alguma coisa horrível naquela mala assim, tão pronta pra eu pegar e sair correndo e que eu devia mesmo esvaziar, pares de meias que eu não ia usar, e os livros que eu tinha que ler de qualquer jeito, e os remédios esperando por perto pra eu não deixar nenhum vício pra trás. Como se fosse assim tão fácil como eu olhando pela janela e procurando nas ruas próximas um caminho pra onde quer que fosse meu, sem força pra sair daqui. Sem a chave pra fechar a porta e sem a coragem pra deixar tudo escancarado, como se a casa me gritasse saudades, como se ela engolisse meus gritos e perguntasse pra todos os travesseiros do lado de dentro se eles sabiam o que tinha acontecido comigo. Mas os móveis não respondem mais. Param de falar na hora em que eu sair daqui. Param de gritar meu nome. O seu nome. As histórias que eu roubei, só lendo em voz alta esse monte de parágrafos únicos, de pontuações confusas e de poucas maiúsculas, que parecia um livro perdido, descascado folha por folha pelas paredes dessa casa que não é mais minha, e minhas unhas arrancando a pintura pra colocar na mala, junto com as sobras da páscoa, as lembranças do natal, saudades do ano novo e meu aniversário que parecia que nunca mais ia chegar. Eu não olhava, pra não ter que colocar as coisas de volta no lugar. Nos tijolos, nos cabides, nas gavetas e sem saber onde guardar a vontade do que não aconteceu. Só sempre esperando de longe, de leve, esse motivo sonoro e alto pra eu sair daqui e encontrar em qualquer outro lugar um canto onde eu possa sentar sem dar respostas, sem machucar, sem mentir, e sem inventar histórias pra poder segurar sua mão.


Henrique Rochelle

sexta-feira, março 05, 2010

Grama

Por cima do seu colo
eu deitei (meus sonhos) na grama
e era pra ver (se) você (lia) melhor,
mas era noite e (quase) tarde
e eu passei muito tempo
confundindo (as estrelas e) seus olhos,
porque era nublado (e tão perto)
e (eu assim achava) difícil te enxergar
do lado da árvore (de novo,)
e eu que pensei só nelas por anos
não olhei nem uma vez
porque assim (tão próximos)
íamos (devagar) pra mais longe
e o dia terminava (mais quieto)
mais (escuro e mais) sozinho
comigo achando (o caminho cada vez mais) distante,
a cama mais vazia e os sonhos mais tristes
e sem um jeito (de pedir desculpas,)
de sorrir pra ver se fazia diferença,
eu fui afundando
(na grama e) no seu colo
mais que qualquer coisa
pra ver (se) você (notava
e me trazia de volta).







Henrique RM

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Verão

O cheiro de chuva
entrando pela janela
e a vontade toda
de sair pra me molhar.




Henrique RM

domingo, janeiro 31, 2010

Sexta-Feira Tem Sol

Mais uma canção
para tapar o sol,
eclipsar seus olhos
como se eu me deitasse
sobre você
e não houvesse fim,
sem previsão,
horário e despedida,
como se eu pudesse
beijar tuas mãos
e te cantar
no meio da madrugada
quase dois anos
de sonhos guardados,
marcados no meu travesseiro
que já decorou seu nome
e passa mal,
muito mal
por não ter a sorte
que eu tenho
de às vezes te ver.



Henrique RM

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Homeopatia

eu encurtei meus versos
como se fosse mais fácil
te ganhar aos poucos.





Henrique RM

domingo, janeiro 17, 2010

Pra Cama

como os dias sem você
não têm sol nenhum,
eu canto

e porque você não vinha
eu não fazia idéia
de como terminar a noite




Henrique RM

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Oito, Dezesseis, Vinte e Quatro Horas

“Você toma café sem açúcar por causa dos seus olhos,
eu tenho certeza.”

Então era assim que deviam ser os dias...

chovia e eu voltava pra casa com o pescoço doendo
torcido pra esquerda e pra sempre.
Tão doce, achava que nem me aguentaria,
mas adoçava o dia todo
em oito, dezesseis, vinte e quatro horas
que eu poderia passar te olhando,
fixa e descaradamente,
sorrindo absurdos através da garoa,
que o lado de dentro gritava,
ensolarado, açucarado,
dissolvendo, melando os dedos,
queimados de estrelas cadentes que estouravam,
arrebentavam a cada contato,
incidente – acidente provocado
e era só o que eu precisava.
Não, não sabia o que faltava,
se faltava alguma coisa.
Só ficaram faltando uns quinze minutos
e foi quando eu soube que era assim que os dias deviam ser,
oito, dezesseis, vinte e quatro horas
virado pra esquerda, pra frente,
de dentro ensolarando todo o caminho que eu fiz pra voltar
querendo saber o que você faria do resto do seu tempo,
oito, dezesseis, vinte e quatro horas
que eu esperava pra repetir -
o tempo todo de novo e de novo.






Henrique RM

sexta-feira, dezembro 25, 2009

Doce

(trilha sonora obrigatória: http://www.youtube.com/watch?v=zOpT8vsloeA)

Onde foi? Em alguma parte do caminho, nos tantos quilômetros de estrada, em algum acostamento, eu perdi meus pedaços preferidos de mim mesmo. Quando deu meia noite e todo mundo se abraçava, eu olhava de canto, tentando saber como foi que eu deixei de ser doce. Como foi que eu deixei cair de mim o que me fazia sorrir. Sorrisos enormes. Sorrisos gigantes que eu não sei quanto tempo faz que eu não dou. Eu passei da idade de pedir o que quiser de presente. Eu cheguei nos dias de entender porque não se pode ter tudo. Tudo o que eu nunca quis entender. Em todos esses dias, eu perdi o encanto. Perdi a graça e eu me olho no espelho como se analisasse, como se dissecasse o que antes me olhava de volta como se sentisse. Sem saber o que fazer de mim, eu fui arrastando as horas e agora já não sei como terminar uma noite. Como ir pra cama e fechar os olhos, com todo o peso de fugir de mim por todos os lados, empurrando meus travesseiros, minhas almofadas, empurrando meu sono e distraindo meus sonhos. Eu não sei mais ficar sozinho comigo, porque eu não gosto do que eu acabei sendo. Sem convite, sem companhia, eu completo as noites esperando que alguma coisa mude, mas os açucareiros de casa estão todos sempre cheios de formigas. Onde foram parar minhas abelhas? Minhas árvores? Minhas asas? Meus solstícios? É verão e eu não li isso no céu. Eu perdi meus olhos em algum lugar. Onde foram parar as histórias que me acordavam quando eu era feliz? Onde foi parar meu sono? Eu pedi. Eu juro que pedi. Escrevi e mandei carta. E em nenhuma caixa eu me encontrei. Eu desembrulhei tudo o que eu queria, menos eu mesmo. E não me achei debaixo da árvore. O que eu era é vidro de açúcar estilhaçado pela rodovia, no meio do caminho do que eu queria ter sido. E eu nunca mais soube me fazer companhia. Pela primeira vez, eu-mesmo era a primeira coisa na minha lista de presentes. E pra todo mundo que há anos me insiste que é disso que eu precisava, vontade de mim mesmo e não dos outros, eu tenho toda a amargura que juntei pra mostrar que eu estava certo. Não... eu preciso de chuva de estrelas cadentes. Eu preciso de açúcar. Mais. Mais sonhos. Mais abelhas. Mais doce pra eu-mesmo ser mais doce. Pra ser mais eu. Pra colocar o gorrinho e passar o próximo Natal com sorrisos imensos, cantando que de agora em diante, todos os problemas estarão a milhas de distância. Estilhaçados pelas rodovias do meu caminho, como vidro feito de açúcar.





Henrique RM

quinta-feira, novembro 26, 2009

Estática

Murmurava de leve em torno
e nem era brisa,
mas arrastava as folhas do chão,
como prelúdio de trovoada,
porque o dia amanheceu quente demais,
quase desértico.

Estalava na pele
como se-eu-te-tocasse,
mas eram faíscas elétricas
tensas de esperar as gotas que atrasavam
rolando nos caminhos de outros lados
ressecando a minha estrada
de onde-você-não-está.

Eu afogaria os desertos do percurso,
oceano-de-você,
afundando 75Km em vontade
pra nadar às braçadas
e mergulhar o corpo todo nesses-seus-choques.

Mas não chovia.
Céu fechado e tudo, mas não molhava.
E eu olhava pra longe,
sem saber se o sol se punha,
sem saber se eu chegava,
e ventava.
Um vento histérico de quase-tempestade,
mas que não soprava.

Era carga
e me carregava à deriva.
O dia esperava. Suspenso na antecipação.
Tremendo, como se-fosse-do-seu-lado.
Vibrando, como se fosse a minha boca
se separando assim-tão-de-repente
do seu rosto.







Henrique RM

quinta-feira, outubro 22, 2009

Velha História

Eu acho que eu entendi. Eu percebi, um pouco antes de virar a chave de casa. Você não podia. Você não dizia, você não contava. Mas eu sabia pra onde isso ia, e só faltava decidir se eu te facilitava ou se continuava jogando. Jogos de um só, pra quem não sabe dormir, não importa a temperatura da noite. Era preciso dançar, comer, era preciso sorrir, então eu sorria, como se eu gostasse da noite, pra te deixar mais sem jeito. E nem tinha jeito de fazer você me olhar. Você ali, que já vinha. Você ali, trancado no banheiro. Debruçado sobre a pia e todo vermelho de mãos dadas. As minhas mãos soltas, procurando uma direção que não fosse a sua, quase como um pedido de desculpas, por dar trabalho, por insistir. Mas com aquela velha história você me deixava pendurado e eu procurava o sentido tentando mudar a minha rotina. Encaixar minhas horas nas suas, sem saber que não importava. Eu voltava pra casa sozinho, me perguntando sozinho por quê só eu esperava resposta. Era coisa de vinte minutos. Quatro mãos, duas bocas e o que dava pra fazer. Mas eu voltava pra casa espantado, pra saber o que poderia ser, sem saber que não importava. Questão de pele? De altura? Era o formato da minha boca? Era minha língua que não entendia a sua? Não sabia. Eu andava sozinho, num minuto de silêncio. Pelo que não fomos e não te incomodava, apesar de me deixar escrevendo, às três da manhã. Esperando às duas. O que eu faria às quatro? Como todos os outros, éramos enigmas a ser respondidos. Eu brincava sozinho e nossas soluções eram desimportantes. Desimportantes depois de me cumprimentar, se trancar, se debruçar e, todo vermelho, mas sem vergonha nenhuma, me deixar de longe. Aquela velha história de eu já volto, e eu voltando pra casa sozinho, esperando que um de vocês voltasse.








Henrique RM

domingo, outubro 04, 2009

Covardia

À “Tarde”,
eu só lembrava de pedir
“Ouve o Silêncio”
por mais que tocasse um
“Samba em Prelúdio”,
porque depois de toda a “Ternura”
eu não podia mais com nenhum
“Soneto de Inspiração”

de Vinícius

que eu arranquei,
me partindo o coração,
junto com um laço enorme,
de 300 páginas velhas
e guardei escondido
no fundo dos meus olhos
pra não pensar de frente,
com ou sem resposta,
em tudo que eu deixava pra trás.







Henrique RM

terça-feira, setembro 29, 2009

Tempestade

Do seu lado,
eu ficava cem metros
mais perto da tempestade
e os clarões iluminavam as nuvens por trás,
com seu cabelo grudando no meu suor
do lado da minha boca arfante.

Cansado de seguir em frente
eu dei três passos pro lado e no asfalto
escrevi com vidro estilhaçado
que eu iria errar
só pra acordar do seu lado.
Só pra poder, de madrugada,
tirar do seu colo
o livro que te deu boa noite
do meu lugar roubado.

Eu contei descalço
pras árvores secas,
como se eu soubesse,
que, sonolento,
você era ainda mais lindo
e elas não duvidaram.
Eu trovejei pelos ventos,
tempestuoso e desesperado,
mostrei pra terra, gritei pro alto,
escrevi em quatro canções
e em tantas palavras que você não leu,
que eu sou seu, desde que te vi,
com a certeza dolorosa
de que meus olhos pegariam fogo
se eu te olhasse tanto quanto quero.

Com os cílios magoados por ser errado
e a certeza relampejante
de que não seria de outro jeito,
eu me entreguei inteiro
pra descobrir,
antes que a tempestade acabe,
o que você vai fazer

com todos os meus sonhos.



Henrique RM


(centésimo post. do único jeito que eu saberia fazer.)

quinta-feira, agosto 13, 2009

Tardia

Eu comi carne com mais gosto, mastigando mais forte, como se te ofendesse e te machucasse, pra ver se era mais fácil, se ficava mais leve, se parecia mais bobo e só pareceu mais sozinho e mais longe. Você atira pedras pra ver se me faz rir e desmorona o meu sorriso que eu mantinha só pra você. Eu tomei banho pra lavar de mim a saudade que eu não conheci, pra tirar do rosto essa cara de bobo de quem vai te esperar até perder a conta, depois que você perdeu os cento e quarenta e sete anos que nós vivemos juntos na última semana, na minha cabeça, nas minhas madrugadas, nas músicas que eu cantava enquanto fazia frio, como se fosse a estação e estivéssemos prestes a desfolhar. Outono dentro de mim, pra guardar lembranças como se estivessem caídas, cobrindo o cimento duro que te chama a atenção e era só uma parte de mim, ressecada de desespero, como se eu não soubesse que você não viria e ainda esperasse à porta você chegar, atravessar o mundo e sorrir na minha frente. E você não sorriria. Você não sorria, não sorriu. Eu desabo. Eu despenco e você nem faz questão. Era meu o olhar perdido do outro lado da calçada, que você não viu. Era meu o sonho do seu lado, e eu tenho inveja dos seus versos. Da vontade imensa de saber como eu ficaria na sua boca, sobrou tudo o que eu não te falei, engasgado por um gole maior do que eu dei conta. Eu me afoguei. Como se fosse primavera fora de época, uma semente encharcada por uma chuva que não devia ter vindo. Uma flor murcha de uma estação sua que ficou por ter sido.







Henrique RM

segunda-feira, agosto 10, 2009

Tão Perto

Não tem sentido. Sentido nenhum nesse ‘boa noite’ perdido antes do que eu queria e mais tarde do que podia, que eu falo acenando de longe pra quem devia estar na cama do meu lado. Na cama, do seu lado, como se fosse a hora de dormir, de verdade, porque eu já perdi o nome disso aqui, desse sono enganado, dessa falta que me deixa de olhos abertos até às três da manhã, esperando alguma coisa diferente acontecer, pra eu dizer boa noite de novo, sussurrando nas suas costas que eu te quero e você ouvir baixinho, como se fosse vento pela janela na noite quente, com seu corpo grudado no meu como se fosse um, de mãos dadas como se fosse abrigo, de olhos fechados como se fosse mentira, de boca aberta como se fosse sonho, de pernas entrelaçadas como se fosse bom. Mas era escuro e sozinho quando eu me deitei aqui, cantando alguma coisa triste que me lembrava você e você não me ouviu porque eu estava longe e era noite e era tarde e eu devia estar dormindo, mas não conseguia, então eu ficava sentado escrevendo pra você, pra tentar deixar marcado em algum lugar que isso tudo me faz sorrir demais e o seu sorriso é o mais lindo de todos. Pra te dar boa noite até que fosse manhã, mesmo que fosse de manhã eu fechava os olhos de leve e abraçava o espaço vazio e disforme que se formava no vão da minha vontade, entre o colchão e o travesseiro, como se fosse espaço de sobra na hora de encontrar o sono que eu ignorei pra continuar te lembrando e te lembrando e te sorrindo e te cantando como se fosse amanhã e você estivesse comigo, como se fosse perto e eu te fizesse sentido, como se fosse tudo e isso fosse pra sempre. Eu dormi olhando pra trás, meio que esperando te ver ali, meio que tentando descobrir a que horas você iria embora e quando é que seria demais, por culpa dos dias, da estrada e do caminho todo entre a minha mão e a sua, que só se viam de longe, tão perto da carícia e tão distante do toque, como se fossem gêmeas, como se fossem as duas minhas, as duas suas. Como se fizesse frio e você estivesse aqui pra me esquentar, eu dormi olhando pra trás pra não ver a hora em que não seria o suficiente, quando eu voltasse pra casa, quando você voltasse pro seu dia e eu não tivesse mais você tossindo do meu lado e rindo em seguida e era tudo o que eu queria. Como se eu não soubesse ver o que vinha, eu troquei de lado na cama, como se te agarrasse, pra te acordar e tentar de levar pra dentro da minha noite e nunca mais levantar, te contar toda a história da minha boca na horizontal, debaixo do cobertor, arrancando a sua roupa, piscando rápido demais, vivendo rápido demais, como se fosse o fim e eu já soubesse e estivéssemos perto da despedida de novo, como se a vida toda fosse só essa noite e o quanto eu conseguisse guardar do seu rosto gravado nas minhas palmas, preso debaixo da língua, como o não sei o quê que faltou eu dizer pra nós dois largarmos esse mundo inteiro e vivermos debaixo da sombra de tudo o que eu imaginei te olhando sem parar e te acenando de longe e te dizendo em silêncio que eu queria, precisava estar com você, como se o sol se pusesse e com ele nós dois, como se fosse madrugada e eu não pudesse, não quisesse, não soubesse acordar desse jeito, dessa coisa, desse gosto que eu não experimentei e tem seu nome e está tão longe, tão longe, como se fosse dentro, como se fosse tanto que eu tivesse a certeza de que eu ia sorrir, só pra você me sorrir de volta e fazer sentido, como se fosse perfeito, como se fosse tão perto.







Henrique RM

quarta-feira, julho 22, 2009

Respirar

Eu digeri (seu rosto)
observando de perto
(o balanço dos) seus olhos,
medindo o peso das suas conjugações
e (a tônica do) meu próprio nome,
procurando
(por você)
por um jeito de saber se (se) sentia,
(se) me percebia.
Pra (me) perder entre seu cabelo,
me prender entre (seus) dentes
como lembrança doce.
Pra saber
(se você sabia)
que eu disparo. Com
você na cadeira do lado.
E nenhum (nenhum. Nenhum.)
motivo
pra eu não pular
sobre sua mão.
Te respirar entre as narinas.
Vontade (minha) atrás da orelha.
Atrás de você.
Correr os anos (todos)
atrás (de você).
Sem saber se
(chega)...
(É) seu (o) rosto (que pisca)
debaixo do meu lençol.
E quando eu olho
(pra direita)
você olha de volta
(no escuro).
Na sua frente
(eu me desmancho, me dissolvo),
pra ver (se) você
(me respira).
Me falta o ar.
Sem jeito para juntar
as sílabas.
Te chamar (de meu)
e fazer sentido.
Com você, talvez eu fizesse
(mais sentido).
(Tomo água) pra saber
que eu (não posso,)
não consigo não querer.
Eu acordo (três vezes) de madrugada
(com sede).
Eu (não tenho sono,)
tenho falta de dormir
(do seu lado).
Pra (te) contar as estrelas
nas suas pálpebras,
e sentir com a boca
(o sol nascer sobre você),
respirando o seu gosto,
quente e desperto
(do meu lado) e calado,
como se fosse sonho
(e acordássemos em seguida
pra darmos as mãos
e dormirmos abraçados).







Henrique RM

segunda-feira, julho 20, 2009

Por Dia

Eu continuei pelo caminho escrevendo seu nome como se me desse algum conforto e contando, pra todo mundo que eu vi, a história do que podia ter sido, como se isso fosse mais perto do que eu queria. Eu repassei, de novo e outra vez, cada detalhe que eu lembrasse, pra ver se isso me fazia sentir melhor. Com os dias, a sua imagem se distorceu, seu rosto borrou e eu achei que perdesse a importância. E você continuava por aqui, de um jeito que prendia o olhar pra me avisar que eu ainda lembro, pra me avisar que junto com a última vez que a gente se despediu, ficou um pouco de vontade minha de gritar. Eu grito antes de dormir pra saber que ainda faz sentido. Sem ter as palavras, sem saber o que fazer, sem nem me querer, sem querer você acertou em cheio. Eu fico enganando o sono, achando que você perceberia. Eu fico atrasando a hora, como se você sorrisse olhando pra trás. E você não olha. Eu te escreveria por dia uma carta pra te dizer como seria perfeito, mesmo achando que você nunca iria concordar. E você continua. Eu fico. E me deito achando que você volta. Não pra mim.





Henrique RM

quinta-feira, abril 16, 2009

Vinte

Por não ter uma opção melhor, eu sorri o sorriso sincero de quem sabia que ela estava errada, mas não tinha tempo, motivo e nem coragem de estragar a infantilidade e a felicidade fácil que ela construíra pra mim nos três minutos em que conversamos, depois de uma hora de estrada do meu lado quando meus únicos interesses eram o sol batendo no meu rosto e o braço do menino do outro lado do corredor. Foi muito mais fácil do que acabar recontando o pedaço da minha vida que não me empolga, que tem mil livros velhos e duas sapatilhas muito mais novas do que eu queria. Olhando pela janela, eu procurava os meus vinte anos que, por mais que parecesse, não estavam ali, estendidos, mortos, atropelados pela rodovia, abertos e espalhados por esse caminho que me forçaram e que não é meu, nunca foi. Com toda a sutileza gentil que ela conseguiu recolher no fim da vida três ou quatro vezes maior que a minha, ela pesou nesse fim de infância que eu prolonguei, como uma avaliação maldosa por sua suavidade, sobre tudo o que eu larguei pra estar nesse lugar que não me completa. Eu sorri de volta porque ela era sorria e era sincera e em três minutos eu soube que ela não teve filhos. Eu acho. Tínhamos algo em comum, fora aquela hora de viagem. Eu sorri de volta porque havíamos nos tornado cúmplices, sem que eu quisesse, e quando ela se despediu, ela me virou os olhos com uma saudade absurda de ser jovem e ter todo o futuro à frente. Eu sorri de volta por não ter coragem de dizer que eu também sorria desse mesmo jeito para os outros. Eu sorri porque não podia gritar. O moço do braço desceu no mesmo lugar que ela. Ele e a amiga. Eu não soube o nome, não conheci o gosto. Eu fechei os olhos com o sol quase chegando no meu rosto e me perguntei sem parar por quê foi que eu sorri de volta. E eu sorri. Pro fingir que estava tudo bem, pra não parar o ônibus, descer na estrada, desaparecer por cinco meses, pra não fazer escândalo, ameaçar desconhecidos, seqüestrar crianças, pra não me sentir velho, amargo e infeliz, pra ter uma história pra escrever agora, quando ela me sorriu perguntando com doçura e com a esperança de quem já perdeu quase tudo exceto as memórias, se eu era jovem e feliz e realizado, eu fui obrigado a sorrir de volta, respondendo, sem vacilar – eu sou! – mas eu não agüentei. Como estávamos parando e ela se erguendo eu sorri com o olhar perdido, procurando o menino do banco do lado, procurando que ele me olhasse, me sorrisse e dissesse “Eu sou” e depois “Sou eu”. Mas ele não olhou. Ele só saiu. Os dois desceram, e quando o caminho continuou eu ainda tinha o sorriso dela, o braço dele e a minha mentira na cabeça. Do meu lado, o braço da poltrona vazia.






Henrique Rochelle Meneghini

quarta-feira, dezembro 31, 2008

Pra Esse Ano

Eu acho que pra esse ano eu decidi esquecer. Riscar da memória uma lista imensa de nomes que eu não devia mesmo guardar. Esquecer tudo o que começou errado. Tudo o que já terminou. Começar do zero, pra poder andar pela rua sem chorar de vez em quando vendo uma loja, uma avenida, uma esquina, um caminho que me arrasta pra alguma hora passada, pra alguém passado, pra uma vontade passada, que esse ano eu decidi riscar da minha cabeça. Lembrar meu nome, o das pessoas que eu nunca agradeço por serem tão fantásticas como elas são e me esquecer de todos os que eu vivo atormentando em pensamento pra ver se um dia voltam, pra ver se um dia me encontram, me encantam, me descobrem de novo. Pra esse ano eu decidi esquecer. Esquecer a vontade de coisas que eu não tenho mais, e buscar as coisas novas pra preencher todo meu espaço vazio que eu já devia ter esquecido que existe. De alguma forma, em algum sentido, eu devo ser completo. Então pra esse ano eu decidi me completar. Sem esperar que algo a mais venha, sem depender de uma história, por melhor que seja. Pra esse ano, o que eu quero é passar cada hora comigo mesmo, que eu sempre me fiz companhia e eu nunca me dei o valor certo. Pra esse ano, esquecer todos os casos que não funcionaram. Todos meus castelos caídos, todos os meus quase-romances. Eu posso passar esse ano inteiro em contos, que seja. Mas eu quero pra esse ano contar a minha história, não a história de como eu esperei alguém. Pra esse ano eu quero me esquecer de esperar. Esse ano talvez não tenha tempo, esse ano talvez não tenha horas pra mim, não tem como saber agora. Pra esse ano eu não quero saber. Pra esse ano, o que eu quero é descobrir. Sem precisar divagar sobre as medidas do rosto de alguém que não tem nome, ou que tem o nome na lista que eu esqueci, eu vou me ocupar em saber cada milímetro de dentro de mim. De verdade, esse ano o que eu quero é começar. Nada de continuar, o ano tá acabando e eu prefiro acabar junto. Começo de novo tudo o que eu mais amo. Começo pela primeira vez tudo o que eu fiquei esperando, que pra esse ano eu não quero esperar. Pra esse ano, eu quero perder a vergonha. Pra esse ano, o que eu quero é me achar. Pra esse ano eu quero mais paciência, porque eu nunca dou a minha pra quem mereça, e parar de perder tempo, porque esse ano eu vou saber que um ano passa muito rápido pra eu poder deixar de fazer alguma coisa. Pra esse ano o que eu quero é me surpreender. Sem esperar de mais ninguém, mesmo sabendo que tem aqueles que não me deixam nunca esperando. Pra esse ano, eu quero saber melhor meus caminhos, me achar melhor em todos aqueles lugares onde eu já marquei meus dedos, e em todos os lugares por onde eu já passei. Pra esse ano, eu quero mais livros, que eles sempre me fizeram bem. Pra esse ano, mais cores, que as velhas não podem ser pra sempre, agora que o tudo acaba. Pra esse ano, mais encontros, mais sonhos, mais lugares. E alguns lugares de novo e de novo e de novo. Eu não vou me cansar de me perder nos lugares onde eu faço sentido. Pra esse ano eu quero parar de me encontrar nos lugares que não são meus. Pra esse ano eu quero mais fotos, porque elas me contam coisa demais. Mais palavras, porque eu já usei demais essas aqui. Pra esse ano eu quero mais sorrisos, e mais que tudo, eu quero mais os meus sorrisos. Pra esse ano eu decidi esquecer. Pra esse ano eu decidi me lembrar de ser mais feliz. Só pra esse ano, por enquanto. Só pra esse ano, por hoje. Por esse ano, os outros anos eu deixo pra depois...




Henrique RM

terça-feira, dezembro 16, 2008

Vazio

Eu não sabia o tamanho do vazio. Como medir? Qual o tamanho da distância entre o que eu não conheço e o que eu consegui? Eu não sabia se usava metros, litros ou velocidades. E mesmo assim, se afastava. Se perdia. E eu perdia de vista as coisas que eu já nem sabia mais marcar. Páginas, lembranças, sons. Não importava mais. Eu tinha um vazio imenso sem saber o que fazer dele. Vazio por todos os lados e eu no meio daquilo tudo que me empurrava pra eu nem sei onde. Que me arrastava de onde eu não faço idéia. E eu não faço idéia nem do nome disso. Além de saber que é vazio, que é grande e que faz falta. E falta de que, que eu nunca tive? Eu não consigo. Eu não podia mais colocar em palavras o vazio à minha volta. Eu comecei a colocar em olhares. Meus olhares se perdiam pelo meio da noite. Eu facilitava. Pra enxergar mais longe, pra perder o que havia mais perto, que perto de mim só tinha o vazio das coisas que eu não sei mais contar. Não sei mais escrever. Passa um dia, um mês, um ano sem nenhuma linha. Tudo em branco. Em branco todos os meus versos livres. Eu doía nos dias de chuva. Eu esperava, olhava, contava. Contava o tempo que passava estranho e cinza e por cima de mim. Sempre por cima. Eu não tinha chão. Eu tinha quilômetros (cúbicos) de vazio, e um infinito de nada a perder de vista. E a vista se perdia, procurando uns olhos que não fossem tão escuros, que já se perdera demais nesses olhos todos pretos que tem por aí. E não tem mais por ai. Não tem em nenhum lugar que eu encontre, que o tempo todo eu só acho a falta do que dizer. A falta do que contar. A falta de uma história que me deixe um pouco mais amargo. De repente chove e eu nem sei pra quem dizer que eu tenho medo. Contra os trovões eu não tinha armadilha. Coberto, na cama, sozinho, eu tinha as horas que passavam pra contar pra ninguém uma história sem título que já perdeu o enredo. E nada acontecia de mim. O que eu sabia? O que eu tinha? Eu procurava, sem parar. Sem cansar, em todos os cantos, por todas as janelas que eu achava no caminho, pra casa, pra qualquer outro lugar que me fizesse tão pouco sentido quanto esse lado de quem eu não tenho. Vazio. Vazio por todos os lados. E dentro? No medo de me engolir, no medo de me dissolver praquilo que não tem nome, eu olhava debaixo da cama. Atrás do armário. No espaço sujo do canto ao lado das gavetas. Nada. Nenhum papel. Nenhuma promessa. Nenhuma proposta. Nenhuma boca que me viesse dizer que eu podia sonhar. Eu não podia sonhar. E por isso meus sonhos eram tão escuros e eu nem dormia. Não dormia. Não dormia porque era sempre noite, e eu não suportava mais viver assim pra dentro. Pra dentro de quê, eu queria saber. Pra fora de mim. Pra fora de mim, na direção de tudo o que eu não tenho. Na direção de tudo que me esqueceu. Pra fora de mim, e sempre correndo pra qualquer lado que me gritasse, o tempo todo, que era tudo vazio. Estava tudo vazio. E assim passava a noite. E era sempre noite, sempre escuro. Sempre chovia e eu não tinha sono. Sempre ventava e eu não tinha sonhos. Era sempre escuro, sempre sozinho, sempre vazio, por todos os lados.




Henrique RM

sexta-feira, julho 04, 2008

Mãos Dadas

Bem antes daquelas luzes se apagarem eu já achava que devia agarrar sua mão e sentir o seu calor. Eu já tinha imaginado demais e sonhado demais. Ali do meu lado, eu precisava descobrir se a surpresa nas suas mão seria tão mais incrível que o sonho, como você foi. Eu precisava de mais toques. Mais abraços, que aqueles dois me deixaram morrendo de vontade. O conforto do seu ombro. A volta da sua cintura. As medidas entre os seus dedos. Eu queria desvendar o mistério por trás de você, que me prendeu, encantou. E entender o que você tem pra me deixar assim. Todo sorrisos enormes e vontade de mãos dadas.

Bem antes daquelas luzes se apagarem eu já tinha te contado. E eu queria, esperava, me mordia de vontade. Antes daquelas luzes se apagarem, aprendendo a ler o seu gesto, começando a rasgar a superfície do seu esperado e cavando e desenterrando tesouros, desenterrando segredos, desvendando mistérios, eu fui descobrindo motivos pra te olhar e sorrir com os olhos bobos de quem vê azul infinito.

Os tempos mudaram. Bem antes daquelas luzes se apagarem as coisas eram de outra forma. Bem antes, tudo de um jeito novo e às vezes horrendo. E a idéia que você me deu era diferente. Era surpreendentemente alheia a tudo o que eu tanto fiz e me enjoou. Tudo o que me perdeu e me gastou. O tempo novo e a vontade nova. Nem bem eu reconhecia sua voz e eu só queria agarrar sua mão e falar pra ela que eu entendo. Contar pras linhas da sua palma a história que eu imaginei. Fazer segredo dos meus segredos pras marcas no seu pulso. Trocar os desastres que tem na minha mão pelos sorrisos de duas mãos juntas.

Bem antes daquelas luzes se apagarem. Bem antes daqueles dois gritarem os meus próprios pensamentos. Bem antes de eu entender, eu só queria saber o peso da sua mão na minha. Bem antes daquelas luzes se apagarem eu só queria fazer sentido. E uma mão sozinha não faz sentido. Bem antes daquelas luzes se apagarem eu já queria tentar. Depois de elas se acenderem eu percebi. Depois de elas se acenderem eu só podia pensar naquelas mão dadas. O sorriso, as histórias, o jeito e, mais que tudo, as mãos. Mãos dadas pra descobrir o tempo. Depois daqueles abraços, só me faltou a sua mão. Me dá...

sábado, junho 07, 2008

Olhar

Você vira meu rosto pra eu parar de te olhar. Não entende que com você não tem mais nada que eu queira ver. Do seu lado as coisas simplesmente fazem sentido. E a gente se vê tão pouco que não faz mal compensar os olhares. Eu precisava daquilo. De estar do seu lado e de sentir você pelas minhas mãos. Eu precisava daquele nada-mais-existe que eu só tenho do seu lado e que me vira os olhos e torce a cabeça. Não sobra espaço pra nada e não tem nada que eu quisesse nesse lugar. Morrendo de sono, cansado e dolorido, eu volto pra casa sem parar de sorrir. Você e os seus olhares de lado. Os seus beijos de surpresa e tudo o que eu juro que eu nunca pensei que poderia ser assim, tudo isso me prende, me encanta e me fascina. Ah se você soubesse que eu só queria que essa noite acabasse com você comigo. Essa e todas as outras, que eu só sei pensar em você do meu lado. Eu exagero. Faz alguns dias além de um mês que eu te vi. E no meio disso tudo milhares de datas que eu não esqueço. Todos os dias, as noites, os lugares e os cantos que nós encontramos. Com você eu me lembrei de que eu ainda conseguia sentir. Eu lembrei que eu ainda conseguia sonhar. E sonhar com você é tão bom... então não se assuste se eu enlouqueço e te quero o tempo todo comigo. É só a sua presença física pra completar a vontade de você que me acompanha todo o tempo. Eu nem tive coragem de falar direito, mas me deixou feliz além do que eu posso dizer que tenha tocado uma música essa noite. Eu só disse que eu adorava. Mas eu adoro porque, assim como milhares de outras coisas, ela me lembra só você. Meu perfume preferido me lembra você. Minha cama me lembra você. Minhas roupas. Meu travesseiro. Meus livros. Meu anel. Que todo mundo acha que é uma aliança, mas que é só um lembrete, como aquele que eu deixei no seu armário, me gritando o dia inteiro que as horas que eu passo com você são as melhores. E não poderia deixar de ser. Com você faz sentido. Com você eu sei o que eu to fazendo. E de todo jeito você me faz feliz. Eu só agradeço e conto as horas pra te ver de novo. Não demora... Não demora porque o tempo fica encoberto e eu chovo pelo quarto. Vem pro meu lado descobrir porque o céu é azul, porque o mar me afoga, porque os prédios são mais altos, e porque eu te quero tanto. Que no fundo eu só sei repetir que te adoro...

domingo, junho 01, 2008

Acredita

Eu subi a rua já doendo sem saber quando você volta. Parece que meus braços ficaram abertos esperando o seu abraço no meio do caminho. As noites com você são sempre mais fantásticas. As horas com você são sempre mais fantásticas. Eu andei pensando que eu devia ter ido mais cedo atrás de você. Passado mais tempo com você. Eu já nem sei quando você volta e tudo o que eu quero é companhia. A sua. Não tem como explicar. Eu nunca soube como eu funciono. Mas, de alguma forma, você sabe. Depois de séculos sem sorrir você me faz dar os maiores sorrisos do mundo o tempo todo. Eu cheguei em casa contando o tempo. Pensando no seu caminho. Imaginariamente me colocando na sua vida. Descontrolado, eu sei. Mas você me deixa assim. Não é cena. Não é exagero. Mas eu só te sinto desse jeito. Eu tomei banho odiando tirar seu cheiro do meu braço. Eu fico aqui investigando meus lábios e tentando recuperar neles o formato dos seus. Tentando lembrar do toque da sua mão na minha, porque aqui em casa, esse frio e você em qualquer outro lugar, eu sei que as minhas mão nunca ficaram tão vazias. Me dá seu tempo pra eu segurar. Me dá sua voz. Só olha pra mim e me deixa completamente louco, como você faz. Eu não sei o que é que eu procuro. Eu não sei o que é isso que eu acho que deita comigo. É vontade. É saudade. É lembrança. Não importa o que seja, é pensando no seu rosto que eu dormi todos esses dias. Foi te vendo que eu abri os olhos. Você foi meu primeiro pensamento a cada hora. A gente pode não ter um lugar e acabar sempre vagando. Pelos cantos que esquecem, procurando nosso espaço. Sabe o que mais? A cidade toda é nosso espaço. O mundo todo é nosso lugar. Tudo o que eu sinto não cabe dentro de mim. Extravasa pela boca, escorre pelos olhos. Inunda as ruas. Afoga os outros todos. Do meu lado só tem você. Mesmo quando você não está. É absurdo. Mas eu sempre fui assim. Absurdamente fora de mim. Absurdamente excessivo. Essa noite, esses dias, absurdamente seu. Eu nem sei como vai terminar essa noite sua. Não sei como vai ser seu domingo. Não imagino a sua semana. E o que eu te digo? Eu não preciso te pedir nada. Mas pensa em mim. Pensa em mim porque eu já não consigo parar de pensar em você. Eu não preciso te pedir nada. Pra mim, você respondeu já com os olhos. Eu nem imagino a sua semana, e eu só sei contar as horas até ela acabar. Ai pára de chover. Ai o céu abre. No meio daquele azul todo. No meio daquelas estrelas. No meio de todo aquele espaço, eu vou escrever seu nome e te mostrar o quanto eu te quero. Acredita em mim.

quinta-feira, maio 29, 2008

Faltam Viagens

Mesmo que eu soubesse que você não vem.
Mesmo que a noite se debruçasse pelo caminho.
Houvesse todo o mar revolto no meio da estrada.
Ainda que fique longe e eu espere e não agüente.
Eu deito como se fosse entre os seus baços.
Eu sei sem erros o tamanho do seu abraço.
Sem variações, sei o gosto da sua boca.
E quando eu me cubro e pareço dormir,
são seus olhos que eu vejo no escuro.
Não do meu lado, mas de todos os lados de dentro de mim.
Me assalta e me acorda. Me desperta e atormenta.
Mais uma noite que eu passo só pensando em você.
Pra que sono, pra que tempo?
Meus dias todos eu passo contando as horas.
Conto o tempo pra não ver se você vem.
Esperança sem sentido de que você apareça do meu lado.
De repente. E me leve pra qualquer lugar só seu.
Eu preciso de um pouco de só nós dois.
Que não nos vemos o bastante.
Não nos temos o bastante.
E ainda assim, cada olhada minha é na sua direção.
Eu ando sozinho debaixo daquele céu e você está comigo.
No caminho de volta, no meio do vento e da chuva, você me esquenta.
De dentro pra fora, como conseguimos, por enquanto.
Só assim pra eu ver o tempo continuar.
O que eu faço da falta que você faz na minha noite?
Não é sono. É vontade de deitar do seu lado.
É vontade de te ter entre os meus braços, mesmo que sonhando.
Vontade de te ver em qualquer lugar que seja.
Vontade de estar com você sem hora pra te soltar.
Faltam marés pra nos afogarem juntos e conchas pra contarmos.
Faltam estrelas no meu céu perfeito que sem você não é azul.
Faltam viagens. Faltam caminhos pra nos perdermos.
E eu já não me encontro nesses lugares que não têm você.
A sua imagem eu fixo em cada canto pra tentar fazer sentido.
E todo, todo o sentido do mundo é que eu sinto a sua falta.
Me abraça pras horas pararem de passar.
Me encanta pra eu não pensar em mais nada.
E eu só penso em você...