quinta-feira, dezembro 21, 2006

Delírio

Quando eu acordei, eu decidi que era hora de fazer alguma coisa de verdade. Quando eu acordei eu vi que não tinha mais nada além de mim a minha volta e eu me dei conta do que é a solidão. Sozinho. E é assim que as coisas continuam? Os dias não deveriam ficar mais quentes agora? Só o sol me esquenta e o mundo todo me esfria. Só o sol me esquenta e eu passo frio por dentro. Por dentro as coisas são um pouco mais difíceis do que elas parecem. E eu até quis tentar fazer alguma coisa realmente de verdade, mas o que havia pra ser feito? Eu já disse ‘eu te amo’. Eu já falei as últimas coisas que eu tinha pra falar. Eu escrevi meus sonhos e eu chorei minhas perdas. E o que mais eu podia fazer? Nessas horas, as coisas são mais silenciosas do que sombrias. Nessas horas as coisas doem um pouco mais, porque por dentro elas são um pouco mais difíceis. Nessas horas, as coisas doem um pouco mais, porque o silêncio machuca. Eu acordei e eu quis fazer alguma coisa, então eu fiquei na cama. Então eu não disse nada sobre o frio dentro de mim, e quando descobrirem que eu morri congelado vão se perguntar o porquê. Quando descobrirem que eu morri congelado, vão se perguntar como isso aconteceu no início do verão. E ninguém exceto eu poderia responder que o meu inverno é mais longo que o inverno do mundo. O meu inverno tem o tempo dos meus sonhos e os meus sonhos nunca acabam. Por isso eu fiquei deitado e quieto e não contei nada pra ninguém. Por isso eu me calei e aceitei que há dias em que as coisas são mais silenciosas do que sombrias. E quase nem bem há sombra mais. O sol de verão aquece o mundo e eu congelo por dentro. E nada que eu faça me esquenta. Nada que eu faça me faz falar. Então eu quis fazer alguma coisa de verdade. Eu quis fazer alguma coisa de verdade que mostrasse pra todo mundo que eu ainda tinha vida dentro de mim. E eu fiquei deitado na cama em silêncio e esperando as horas. E as horas se arrastaram lentas. Lentas, as horas se arrastaram até que eu pudesse fazer alguma coisa de verdade. E eu fiquei em silêncio deitado na cama. E o que havia pra ser feito? Eu já disse ‘eu te amo’. Eu já falei as ultimas coisas que eu tinha pra falar. Eu já sonhei minhas perdas e escrevi meus choros. E entre as linhas do que eu escrevi havia alguma coisa para ser dita? Havia pouco. Mas havia o pouco, pra se dizer, daqueles que não dormem. Havia pra se dizer o pouco que atrapalha o sono das pessoas e que cresce com o calor. A febre aumenta e o delírio liberta a alma. O delírio é tinta para as minhas sílabas. O delírio é o sonho dos que não dormem. O delírio alimenta o desespero e a falta de tempo da alma. O delírio é verso para os meus poemas. E eu não posso mais escrever. Não mais escrever ‘eu te amo’, por mais que seja a eterna verdade. Eu preciso dizer as palavras que corroem a língua e arranham a garganta e, como loucas, me tentam escapar. Não há escapatória quando o delírio liberta a alma. Há coisas que devem ser ditas. E mesmo que sejam poucas, há coisas que atrapalham o sono e corrompem o sonho. Quando eu acordei, eu decidi que era hora de fazer alguma coisa de verdade. Eu fiquei deitado na cama, pra te falar que eu te amo e ouvir o seu leve riso de carinho e pena. Eu fiquei na cama deitado em silêncio. Eu fiquei na cama sonhando. Mas há coisas que são mais silenciosas que sombrias, e eu decidi que era mais simples dormir pra sempre no silêncio sombrio do sonho da morte. E então eu fiz uma coisa realmente de verdade.


Henrique Rochelle Meneghini

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

ai ai ai...
cada dia q passa eu te amo mais....
mto lindo, emocionante...como td q vc faz...
eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee....
te amooooooooooooooooo.....d+ e pra sempre!
:*****

22 dezembro, 2006 01:03  

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