Não É Insônia. É Uma Noite Sem Nada
Tem faraós e seguidores de uma seita maldita castrando e sacrificando crianças nessa noite. Pelo chão da casa tem restos de animais mortos. Eu ando no pouco espaço do meu quarto rodando e procurando uma saída. A porta está fechada. A porta está fechada. A porta está fechada. A porta está fechada. Eu quero sair, mas o ar está todo cheio desse cheiro insuportável de morte e produtos de limpeza. Cadê a grama? Eu acho que eu enlouqueci. Está me ouvindo? Alô? Me tira daqui. Me tira daqui. Me tira daqui. Essas ficções todas me irritam. Eu quero mais castelos! Eu quero mais castelos. EU QUERO MAIS CASTELOS! Que inferno. Não pode ser tão difícil. Abre a porta. Desce. Come. Bebe. Liga. Desliga. Deita. Liga. Desliga. Lê. Liga. Desliga. Deita. Levanta. Corre pelo quarto. Tem alguma coisa vibrando em algum lugar e o barulho me enerva. Que explodam o mundo, que enforquem as flores! Eu não entendo essa noite. Maldito pôr-do-sol-de-hoje. Que dia é esse? O que é que está errado? Sempre foi assim. Fecha os olhos e dorme, mas não há sono. Não há nada nessa noite absurda e eu não sei o que fazer. Por todos os lados, os sons são estrangulados pelas teclas. Abro e fecho livros, só criticando. Sem nenhuma vontade de saber as histórias. Entende? Elas não têm castelos! Talvez eu devesse comprar. Tem alguma coisa 24h por aqui? Um acervo de manias estranhas se me mostra. E o que eu faço? O que eu faço? Ah... eu acho que devo experimentar. São como drogas. Imagino que sejam. Devia perguntar praquele autor. Ele gosta tanto de escrever sobre elas. Malditas pessoas que viveram mais que eu! Malditas todas as pessoas que tiveram algo que eu não tive! Eu devia me matar pra poder escrever sobre isso. Todo mundo gosta de um autor bem morto. Tem coisas fora do lugar em todos os lugares. Os lugares então têm coisas? Porque coisas têm lugares e lugares não têm nada? Eu não queria ser um lugar. Não importa. As pessoas escrevem ‘onde’ pra lugar, pra pessoa, pra ação e pra pensamento, mesmo. Somos tudo lugares. E o desmerecimento me angustia. Eu sou uma personagem auto-narrada. Eu odeio narradores-personagem. Eu odeio a falta de discrição da própria narrativa. Eu me sinto sem roupas em frente a bancas examinadoras. Levanta. Anda pelo quarto. Respira. Respira. Digita. Está passando. Maldição, está passando. E eu não vou mais ter o que fazer. Sem sono. Sem nada. Que noite é essa? Tem maníacos matando e estuprando vítimas sem nome, então eu não me importo com elas. Eu não conheço os rostos delas, então eu não me importo com elas. Não me importo, não me importo, não me importo. E não me fale que eu minto. É mentira. Mas não me acuse. Eu não sou culpado pelos crimes dos outros. Eu nem tenho os meus. Eu odeio as pessoas que mataram mais que eu. Odeio os que roubaram mais que eu. Odeio todos os que fizeram alguma coisa que eu não fiz. Está passando. Inferno. E a noite não vai acabar. Exaustão, sim, mas o travesseiro deixou de ser descanso. Eu quero mais castelos. Me enterre debaixo de um castelo quando eu morrer!. Eu odeio as pessoas que moraram
Henrique Rochelle Meneghini
2 Comments:
"Bastante perturbador" é o suficiente. Um ótimo texto pra quem gosta de literatura suicida.
Te amo, noite-sem-nada bee.
=*
Eu acompanho esse blog como menina louca por namorado acompanha horóscopo, mas, desde 26 d novembro sem net, eu acabei me atrasando.
Aqui é o começo da minha 'atualização'.
E como diz o primeiro comentário "bastante pertubador' é o suficiente".
E é muito bom!
=*
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