terça-feira, dezembro 18, 2007

Pedido

Pela primeira vez ele se magoou por não fazer parte da vida de alguém mais cedo. Pela primeira vez ele ficou meio perdido por não saber o que fazer. Quem eram os outros e se eles existiam mesmo... tempo passado e tempo presente. No emaranhado desconexo dos sonhos dele tudo fazia sentido. Acordado ele tinha medo. Medo de não ser o suficiente. Medo de não sorrir o bastante, medo de não conseguir aquele lugar. AQUELE lugar. Aquela posição, presa entre os dentes, entre os dedos, entre as rugas dele. Ele queria se fazer pra sempre até na pele. Viu fotos velhas dele. Se contorceu por não fazer parte daquela vida. Daquela alegria. Daquele sentimento qualquer que fosse. Precisava disso. Queria demais. Um desejo descontrolado de ser parte de alguém. E ele, que sempre foi descontrolado, descontrolado então, como nunca antes. Sem parar de olhar, de procurar, um rastro, uma pegada, uma lembrança. Um “eu te quero” que tivesse se escondido nas palavras dele. Ele só queria ser querido por quem ele queria tanto. Mentira. Ele queria fazer do outro a pessoa mais feliz do mundo. Ele queria ele mesmo ser a pessoa mais feliz do mundo. Ele sonhava noite e dia. Na janela, vendo a noite passar. Tinha uma música ao fundo, mas ela não importava tanto. Ele queria um abraço que o vento não podia trazer. Ele queria que ele quisesse o abraço e o desse, mesmo sem o vento poder fazer qualquer coisa. Vontade de ter algo de volta. Mas ele tinha. E o tempo todo ele sabia que tinha. A lembrança de uma olhada rápida e pelo canto. Aquilo era o suficiente pra toda a vida. Um beijo que ele só imaginou. Era o bastante pra vida toda. Mas ele vive a vida toda o tempo todo. O que ele faz, se tudo o que ele tem é ssa vontade sem controle? Ele se perde na própria cama pra pensar em você! E ainda sim ele se desespera porque quer ouvir alguma coisa. Um “eu te quero” que tenha ficado perdido entre os dentes. Um “eu te quero” que tenha sobrado na saliva. Porque ele só consegue pensar em você. Em todo lugar. Você é tudo o que ele vê. Ele não consegue segurar, não consegue esconder. Não é como se ele estivesse sempre prestes a chorar, mas ele está sempre prestes a explodir pelos olhos. Vem e diz pra ele que ---. Diz qualquer coisa. Ele só precisa saber de você. Sabia que ele se mata de vontade de conhecer a sua voz? De saber a cor de verdade dos seus olhos. De sentir o cheiro do seu cabelo e o peso da sua mão. Ele se desdobra. Se contorce. Se morde e te deseja. Ele dorme e é só você por todo lado. Você. Você. Você. Você. Espalhado pela cama. Agarrado nos braços. Em toda parte. Tudo é um atalho pro seu rosto. Tudo é um caminho pra sua vontade. E você? Ah se ele soubesse. Ele só quer te fazer feliz. Feliz demais. Eu. De você, a pessoa mais feliz do mundo. E eu a pessoa mais feliz do mundo. É só. É tão bobo, tão simples, tão fácil. A gente esquece o mundo e foge. A gente pode voltar. Eu não quero te tirar de tudo o que você gosta. Agora tem coisas que eu entendo melhor. Eu só quero ouvir a sua voz. Não uma declaração, nem um pedido. Qualquer palavra que você puder me dizer. Vem. Então fala pra mim e me derrete. Me desfaz. Acaba comigo, por favor. No fim das contas eu quero mesmo acabar do seu lado. Eu quero mesmo acabar com você.

Essa noite não me existe outro jeito de ser feliz. Vive isso comigo?




Henrique Rochelle Meneghini

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

"Ele queria um abraço que o vento não podia trazer."

Prendi os olhos nessa frase, não sei bem pq.
E como ja aconteceu várias vezes, se eu fosse copiar e colar o q eu mais gostei, colaria o texto quase completo.
E eu não tenho vergonha de elogiar tanto e parecer [ou ser] puxa saco.

Mais que uma honra pra 'inspiração' ser a inspiração.

30 dezembro, 2007 01:14  
Anonymous Anônimo said...

Lendo mais uma vez...
[Dizem que é bom repetir o que a gnt mais gosta]

30 dezembro, 2007 01:27  

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