quarta-feira, dezembro 19, 2007

Pela Janela

Abriu a janela pra ver passar o tempo. Pra ver chegar a noite. Não pensava em quase nada. Do nada, domando a paisagem, bolhas. É, ele talvez devesse revirar os olhos... não de novo! Maldita fixação. Mas ele preferiu observar. A princípio pequenas, eram lançadas pelos sopradores para o mundo. Dentro de si mesmas, um mundo particular. Um sonho particular. E sonho de quem? Ele se perguntava de quem eram aqueles sonhos, ali, à toa, com a janela aberta, enquanto o dia terminava e ele olhava um mundo cheio de bolhas.









Viravam pelos cantos, invadiam o seu quarto. Gigantes e fantásticas. Fantasias instantâneas. Tudo tão rápido que passava depressa demais. E ele sentia falta. Essas bolhas que não param de voltar... o que fazer delas? O que fazer com elas? Uma bolha é uma bolha, mas muito mais que isso, pra ele. Ele descobriu, no meio de uma noite, que elas eram palavras. Que o ar que as enchia vinha de outras pessoas. E assim como podia amar as pessoas, podia amar o que havia delas nas bolhas.









Ainda dizem que os olhos são janelas da alma. As bolhas na sua janela eram janelas pros seus sonhos. E ele sonhava. Sonhava longe, delirante e além. Longe e além, alguém talvez entendesse essas bolhas. Ah, se elas durassem. Se elas pudessem ser carregas pelos quilômetros que cobrem o caminho. Se elas pudessem viajar essas longas distâncias que certas mensagens requerem. Se elas pudessem ao menos sair de cima dos telhados daqui e chegar até outros quartos, outras pessoas, outros sopradores. Se elas pudessem brincar com eles, em volta de seus corpos como abelhas-rainhas e depois estourassem perto do ouvido, explodindo nas mensagens passadas por elas.

Quando ele notou, estava na janela soprando bolhas que diziam ‘vem pra mim’. E, por mais inocente que fosse – e ele tinha orgulho disso – ele acreditava que elas chegariam até o outro lugar. São elas mesmas, em seu tamanho e sua mágica, um mundo todo particular. E tão oco quanto a humanidade de alguém. Ah, se fôssemos todos bolhas de sabão...

Se pudéssemos ser soprados e preenchidos de mensagens, e voássemos pelo tempo, esbarrássemos nas árvores e ainda pudéssemos contar as histórias que nos contaram. As paixões que nos confessaram. Os sonhos que nos encheram. Os amores que nos sopraram.

Acima da cidade, pairaríamos por todo o céu. Choveríamos no verão pra refrescar amantes que se abraçam no chão. Derreteríamos no inverno, pra aquecer os quartos e as camas de todos eles. Além dos prédios, das árvores, da vida e da humanidade. Na altura dos sonhos, junto das nuvens. Voamos. Escorremos por essa massa de vontades que transpiram no ar. Seríamos carregadas por tantos desejos evaporados da pele das pessoas. É assim que as bolhas flutuam. É assim que nós flutuamos. É assim que autores escrevem. Poetas fazem poesia. Fotógrafos registram momentos. Atores representam sonhos. É assim que amamos e que vivemos.









Se durássemos pra sempre. Se não fôssemos esse sonho tão rápido... Reinaríamos. Gigantes absolutas. Senhoras dos homens. E como senhoras, os serviríamos tão bem... viveriam eles dentro desse mundo que nós propomos. Preencheriam o vazio de nosso brilho, com suas próprias idéias. Nada seria tão lindo... tudo seria maravilhoso, encantador e inesquecível.
















Assim ele se pegava na janela, como um apaixonado, cochichando segredos para uma bolha. Assim ele se pegava na janela, apaixonado pela noite e pelo que lhe contavam as bolhas, enquanto escurecia.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

"Ainda dizem que os olhos são janelas da alma. As bolhas na sua janela eram janelas pros seus sonhos. E ele sonhava. Sonhava longe, delirante e além. Longe e além, alguém talvez entendesse essas bolhas. Ah, se elas durassem. Se elas pudessem ser carregas pelos quilômetros que cobrem o caminho. Se elas pudessem viajar essas longas distâncias que certas mensagens requerem. Se elas pudessem ao menos sair de cima dos telhados daqui e chegar até outros quartos, outras pessoas, outros sopradores. Se elas pudessem brincar com eles, em volta de seus corpos como abelhas-rainhas e depois estourassem perto do ouvido, explodindo nas mensagens passadas por elas."

"Se pudéssemos ser soprados e preenchidos de mensagens, e voássemos pelo tempo, esbarrássemos nas árvores e ainda pudéssemos contar as histórias que nos contaram. As paixões que nos confessaram. Os sonhos que nos encheram. Os amores que nos sopraram."

"É assim que as bolhas flutuam. É assim que nós flutuamos. É assim que autores escrevem. Poetas fazem poesia. Fotógrafos registram momentos. Atores representam sonhos. É assim que amamos e que vivemos."

Por isso não é muito legal ficar copiando trechos que eu mais gosto...

30 dezembro, 2007 01:21  
Anonymous Anônimo said...

Ah!
Um dia quero entender sua fixação por janelas.
Mas ñ quero nunca que vc encontre a altura certa.

30 dezembro, 2007 01:22  
Anonymous Anônimo said...

O 'anônimo' foi sem querer ¬¬

30 dezembro, 2007 01:23  

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