quinta-feira, julho 14, 2005

CONTO : Amor por Correspondência

Tímida era a palavra que melhor a descrevia. E nem mesmo essa palavra ela gostava de dizer. falar, alias, sempre foi para ela uma tortura.

Era uma jovem carteira a cinco anos trabalhando. cinco anos fazendo o mesmo trajeto todos os dias. todos os dias olhando sempre para baixo, para evitar um olhar conhecido que a obrigasse a um comprimento, um sorriso ou ate mesmo um olhar em retribuição.

Final de outubro, já usava roupas mais arejadas devido a primavera já adiantada. O trajeto continuava o mesmo, à exceção da nova loja 'Fotos & Retratos', que abrira a uma semana. Passando pela loja entregou a correspondência à funcionária que limpava a calçada e continuou o caminho.

Dia seguinte, mesmo trajeto, mesma funcionária, mais correspondência. Depois veio um domingo. Segunda feira a funcionária esperava à porta, sem varrer. nao havia correspondência.

Ainda cabisbaixa se perguntava quem seria a funcionária. que tipo de pessoa espera a correspondência na porta do trabalho? Ao atravessar a rua percebeu que parecia louca pensando sobre isso. Quem liga para o correio, afinal?

Terça entregou um pacote pardo para a funcionária, ainda olhando para baixo. Quarta e quinta mais dois pacotes pardos... sexta havia pacote, mas não funcionária. Ouviu vozes dentro da loja ao abaixar para passar o pacote por baixo da porta e desconfiou que estivessem com clientes. ‘Quem tira fotos na hora do almoço?’ pensou revoltada.

Sábado outro pacote pardo igual aos outros. Hoje o entregaria olhando a funcionária. Duas quadras antes e já apertava o passo, querendo chegar rápido. Uma quadra. Uma corretora de seguros e duas casas. Finalmente a loja! Chegou cabisbaixa e pegou o pacote na sacola. Diria um oi. Quem sabe faria uma amiga com mais algum tempo... esticou os braços e levantou o rosto (corado) para o cumprimento. Mas não disse ‘oi’ nem ‘olá’: ao olhar a funcionária descobriu que ela era O funcionário, e por acaso ele a olhava com um bonito sorriso. Parou em choque com os braços estendidos e a boca meio aberta, fazendo um bico bastante engraçado, a meio caminho de um ‘o’, sem no entanto emitir som algum. O sorriso do homem aumentou vendo a cena. Ela abaixou a cabeça, roxa de vergonha, e saiu rápido.

Passou o domingo na casa da mãe pensando no incidente. Segunda, outro pacote pardo, igual aos demais, que foi entregue sem sorriso, sem cumprimento e sem olhar. Terça o mesmo. Quarta decidiu remediar o desastre do sábado e olhando para baixo, disse oi ao entregar mais um pacote pardo.

Novembro avançava pelo dia 10 e todo dia ela entregava um pacote pardo, freqüentemente seguido de um sorriso. Finalzinho de novembro os pequenos diálogos já eram freqüentes. Foi na primeira segunda de dezembro que ela percebeu que realmente gostava dele e pensou em convida-lo para sair. Não. Ele não aceitaria... mas convida-lo se tornou um pensamento freqüente e no meio de dezembro já era um pensamento um tanto quanto irritantemente insistente... será que teria coragem? Talvez depois do natal. É. Depois do natal ela o convidaria. Com certeza. Depois do natal.

O natal ia se aproximando e, enquanto ela ficava cada vez mais contente e ansiosa ele estava mais triste e abatido. Os pacotes pardos continuaram mas nem sempre ele estava lá... perto do natal ela o viu chorando dentro da loja. Ficou preocupada. No dia seguinte ele não estava lá. Nem no outro. Nem no outro. Dia 22 ela foi mais cedo para ver se conseguia falar com ele, caso tivesse mudado o horário de almoço. A única coisa que mudara era uma placa pregada no letreiro da loja escrito ‘Aluga-se’. Com os olhos arregalados ela sentou nos degraus da entrada da loja e segurou o choro olhando o piso quebrado da calçada do lado. Não resistiu e chorou.

No dia seguinte ela começou a chorar algumas quadras antes da loja. Ao passar pela loja viu um cartaz vermelho do lado de dentro com o escrito: “Abra-o.” não teve dúvidas. Sentou-se no chão e abriu o pacote pardo. Dentro havia um bilhete. Escrito em azul com uma letra tremida, mas ainda assim bonita.

“Espero q você tenha aberto. Acho que é minha ultima chance de mandar essa carta pra você. Sempre quis te convidar para sair, mas tenho muita vergonha... no dia de natal eu vou voltar para o sul e eu não vou poder te ver ou escrever, mais. Não vou fazer mais pacotes pardos. Não teremos mais conversas. Nem sorrisos. Infelizmente. Nós nunca dissemos nossos nomes... o meu é marcos. Qual é o seu? Eu nunca vou poder te chamar pelo nome... estou chorando... eu te amo... mesmo sem te conhecer...” .

Voltou para casa correndo. Não terminou de entregar as cartas. Chorou sem parar até de manhã. Chorou de arrependimento. De saudades. De arrependimento...

Dois anos depois ela continuava trabalhando como carteira e fazia o mesmo trajeto. A loja não havia sido alugada e o cartaz “Abra-o” continuava na vitrine lembrando-a todo dia da sua solidão. Naquela semana um pacote pardo chegou no correio. O endereço? A loja. Na frente da loja ela sentou para abrir o pacote. As mãos tremendo. Chorava sem parar. O que será que tinha dentro do pacote? Olhava-o sem coragem de abrir. Será que ele se lembrara dela? Será que estava de volta? Aos poucos foi abrindo o pacote, chorando. Abriu. Será que teria coragem de olhar dentro dele? E se estivesse enganada? Não... tinha certeza. Era ele. Ele se lembrara dela. Se lembrara! Dentro ela encontraria uma carta. Um telefone para ligar. Um endereço para ir. Um bilhete. Algum jeito de se lembrar dele. Um recado. Uma mensagem. Um pedido de casamento. Sim! Seriam felizes juntos! Ela leria uma carta romântica. Ele voltaria. Eles ficariam juntos! Sem mais medo ela puxou o papel, com um sorriso enorme. Com os olhos brilhando ela leu o papel.


Era uma proposta para o aluguel da loja.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

[23:07] KiKãuM VIVA! DESPERATE HOUSEWIVES COM 15 INDICAÇÕES AO EMMY!!! diz:
fala pra ele comentar

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Uhahah... Ahm, oi... tipo, ameeeeeeeeei a crônica, mto linda e bem escrita, das melhores que eu já li... n ficou num tom entediante e cansativo como a maioria... vc escreve bem, parabéns! ah, eu nao sou um completo desconhecido, ok? :P eu "te conheço", ja que o luy vive falando de vc... uhm, mto legal seu blog! tchau

14 julho, 2005 23:16  
Anonymous Anônimo said...

ahhh
amei
juro

mas ainda to brava com vc.



t amo mm assim

vadia

=*

26 julho, 2005 19:35  

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