domingo, novembro 13, 2005

Amar não é um sentimento. Amar é um verbo.

Meu amor,

As vezes em que eu te disser que te amo, eu estarei dizendo muito mais que isso. Eu estarei te dizendo o quanto te quero, o quanto te preciso, o quanto te desejo. Eu estarei me esforçando pra transformar em palavras tudo o que sinto por ti. Estarei chorando por não me expressar tão bem. Estarei sorrindo por poder te dizer que te amo.

Dizer que se ama é mais que apenas falar. Amar exige alguém a ouvir. Não se ama apenas. Quem ama, ama você, ama tu, nos ama, ama-os. Mas não ama como eu te amo. Eu te amo tanto que queria uma nova palavra. ‘Amar’ é por demais sujo, por demais repentino, comum, por demais usado, por demais fraco. É uma palavra que não existe mais. Apagaram-na. Milhares de falsos amantes a usaram sem direito. Foi profanada.

Atirado à sombra da ignorância reside um novo amor, um novo amar. Um verbo, um substantivo, uma palavra como outra qualquer. Acima de tudo, apenas uma palavra. Sujaram o amor escrevendo-o. Quem se deu o direito de dar nome a um sentimento? Quem se atreve a verbalizar o que os ouvidos não compreendem?

‘Amor’ não mais emana. ‘Amor’ é cuspido. ‘Amor’ é escarrado. Línguas nojentas deturpam a sua perfeição. Não têm autorização! Não minha... Quem permitiu que qualquer um falasse que ama? Amar é reservado a poucos. Amar não é fácil. Não é para um qualquer. Um idiota diz que ama. Eu digo que te amo. E ele não chega aos meus pés. Vinicius disse que amava, e foi um gênio por amar. De amor nasceu sua genialidade. Quantos gênios ainda são gênios por amarem? Quantos têm a chance, quando é tão difícil provar que se ama?

‘Amar’ tornou-se passagem obrigatória em qualquer relacionamento. Quantos não disseram que amavam porque a hora lhes pareceu adequada? ‘Amar’ tornou-se forçado. Não causa a velha excitação. Perdeu o dom da apreensão. ‘Amar’ é desprezado. ‘Amar’ é dito sem se pensar. Amar é dito! Quer ofensa maior que essa?

‘Amor’ é uma palavra morta. Amar é um sentimento traído. Quisera eu impedir que dissessem que amam. Quisera eu impedir que desconhecessem o verdadeiro amar...

‘Amar’ não mais existe. Não se ama! Eu já não posso te dizer que te amo. ‘Amor’ não é o que sinto por ti. O que sinto é novo. Inédito. Surpreendente. Não é brusco e passageiro. É gradual e eterno.

Quisera poder rasgar todos os verbos ‘amar’ já mencionados. Quem se atreveu a classificar um sentimento? Quem foi tão indigno a ponto de me tirar o privilegio de te amar? Será que posso amar? Será que sei amar? Afinal, o que é, agora, amar? ‘Amar’ já não traduz o sentimento. ‘Amar’ já não completa o desejo. ‘Amar’ já não permite sonhos.

Quisera ter o ‘amar’ só para mim, para poder te dá-lo aos poucos. Aos sussurros e aos gritos. Quisera poder te amar sem a culpa de usar a palavra, sem a culpa de estragar tão nobre sentimento. Sem a lembrança do pouco que vale essa palavra. Sem o risco de ser acreditado falso.

Queria uma nova palavra para ti. Um novo ‘amar’. Que correspondesse a tudo o que sinto, sem a impureza natural da humanidade. Sem o peso do passado. Queria poder amar como escreveu Drummond. Queria que ‘amar’ fosse bom. Queria que ‘amar’ fosse de verdade. Queria que amar fosse mais que uma palavra.

Não te direi que te amo, meu amor. Hoje, amar não é um sentimento. Amar é um verbo.





Henrique Rochelle Meneghini

sábado, novembro 12, 2005

Perfeição

A perfeição dos teus olhos não pode ser escrita.
Não pode ser comparada, impressa, nem descrita.
Não pode ser medida, não pode ser guardada.
Não pode nem ser vista, não pode ser imaginada.

A perfeição das tuas palavras não pode ser reproduzida.
Não pode ser lida, nem pode ser copiada.
Não pode ser contida, não pode ser impedida.
Não pode ser cobiçada, não pode ser plagiada.

A perfeição da tua voz não pode ser gravada.
Não pode ser recordada, nem pode ser esquecida.
Não pode ser ouvida, não pode ser adorada.

A perfeição do teu amor não pode ser imitada.
Não pode ser desejada, não pode ser exigida.
Não pode ser dada, nem pode não ser minha.





Henrique Rochelle Meneghini

Minha Queda Tua

Esse penhasco nunca me foi tão convidativo.
E embora eu tenha passado minha vida desejando,
nunca me joguei na direção do oceano.
Nunca me deixei cair, com ninguém para me segurar.

Nunca cortei meus pulsos numa banheira.
Nem morri por amor. Nem me sacrifiquei.
Nunca dormi em paz. Nem me entreguei.
Nunca amei. Nem vivi. Nem desejei.

Esse penhasco sempre foi meu limite.
Minha única barreira. Minha única fortaleza.
Minha única promessa. Minha única mentira.

E agora não há penhasco. Só há luz e queda infinita.
Antes nunca houve amor. Nem eu. Nem céu. Nem mar.
Agora tenho tudo. Tenho tua mão para me segurar.




Henrique Rochelle Meneghini