quinta-feira, dezembro 27, 2007

Gritos à Meia Noite

foi exatamente quando eu fiquei completamente desesperado, chorando e querendo vomitar o ultimo mês inteiro, que eu virei a página e esbarrei com coisas muito mais dolorosas, muito mais óbvias...

"(...) Sabia que éramos seres de espécies totalmente diferentes, que meu desejo não era totalmente normal, nem poderia ser correspondido e procriado. Eu também nem tinha desejos tão intensos assim. Mas mesmo assim, não podia evitar o que sentia. E sentia vergonha, por ele não ser exatamente o que eu esperava. Por ele não ser exatamente o que eu queria, embora eu quisesse, quisesse conhecê-lo melhor."


> minimamente adaptado de Mastigando Humanos, Santiago Nazarian



TURN DOWN THE MEMORIES OF YESTERYEARS AND BROKEN DREAMS

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Problemas de Pontuação

as duas coisas mais lindas que eu vi hoje, e em muito tempo...

"Anything, whatever you want. I can give up anything. My skin. I’m flayed! No past now. I could give up anything. Maybe in what we’ve been doing, maybe I’m even infected. I don’t wanna be. I wanna live now. I can be anything I need to be. And I wanna be with you. You have a good heart. The good thing is to be guilty and kind always. But it’s not always kind to be gentle and soft. There’s a genuine violence in softness and weakness. And sometimes, self-interested is the most generous thing you can be. You ought to think about that. You ought to think about what you’re doing to me. No, I mean, what you need. Think about what you need. Be brave. And then you’ll come back to me. Then you’ll come back to me."

e também,

"- A gente se falou poucas vezes. Sabia disso?
- Eu sei.
- Você é quase um ponto de interrogação com um corte de cabelo diferente.
- Você é um asterisco. Eu sempre fui apaixonado por eles."

*
tem coisas que eu meço de outras formas. o tempo nao costuma me explicar. mas, pra acordar do jeito que eu acordo, pra dormir do jeito que eu durmo, e pra pensar nas coisas que eu penso, pra mim, você é um asterisco... caso algo tenha escapado sem que você notasse, caso eu tenha deixado de falar algo, a resposta já é óbvia demais na minha cabeça pra eu continuar escrevendo.




> postagem sem comentários. eu ficaria esperando que você escrevesse, mas prefiro ficar sem admitir expectativas...

terça-feira, dezembro 25, 2007

Feliz Natal!

Não só pelo costume, mas porque eu espero que ele seja, Feliz Natal àqueles que podem ter ganhado o mundo, mas ainda sentem falta de presentes que não têm preço. Feliz Natal àqueles que sabem que presentes são esses. Feliz Natal aos que esperam, porque há coisas que só vêm com o tempo. Feliz Natal àqueles que cansaram, mas não desistiram – não há nada a fazer a não ser, talvez, insistir. Feliz Natal aos que vão para a cama sozinhos, e àqueles que abraçam almofadas. Feliz Natal àqueles que guardam lembranças de mais coisas do que se espera. Feliz Natal aos que fizeram perguntas e aguardaram respostas e aos que escreveram pedidos que não sabem se os leram. Feliz Natal aos que divagam e existem por horas em realidades abstratas. Feliz Natal aos que pensam demais em pessoas distantes. Feliz Natal àqueles que sonham demais esses sonhos gigantes. Feliz Natal aos que agüentam. Feliz Natal àqueles que se alimentam de fotos e de cheiros. Feliz Natal aos que não deixaram que o tempo lhes levasse os sentidos. Feliz Natal aos que não foram arrastados, levados pelo passado e cobertos pelas suas sobras. Feliz Natal aos que sorriem entre as lágrimas. Feliz Natal aos que choram de verdade, por motivos mínimos. Feliz Natal aos que se dão o direito da mágoa, para entender os dons da felicidade. Feliz Natal àqueles que têm amigos. Feliz Natal aos que têm amores. Feliz Natal aos casais e aos amantes. Feliz Natal àqueles que resistem e, contra todas as possibilidades, acreditam. Feliz Natal àqueles que enchem o quarto de bolhas e riem. Feliz Natal àqueles que sabem a verdadeira medida da alegria. Feliz Natal àqueles que ainda se alegram, ao se deitar, porque eles sabem o significado dessa palavra. Feliz Natal aos que sabem ser felizes, porque eles merecem. Feliz Natal àqueles que vão pra cama sem o presente, sem a pessoa, sem a companhia, e ainda acreditam que o Natal pode ser feliz. Talvez ano que vem (,) (.) (;) (–) Feliz Natal!

domingo, dezembro 23, 2007

Ame de Madrugada

Ame de madrugada, quando as ruas são mais quietas e você ouve melhor a respiração ao seu lado. Ame de madrugada, quando o vento é frio e você tem mais motivos pra pedir abraços. Ame de madrugada, quando há menos olhos a sua volta e mais surpresas nos olhares. Ame no momento em que for preciso e além de toda perspectiva, pois te pedirão pra parar e pensar. E não é preciso pensar para amar. Ame apenas por sentir. Sinta nas horas juntos a presença, a companhia e o carinho. E faça com que as horas sejam muitas, ou então o bastante pra você. Não ame do jeito que os outros querem. Ame livre do tempo e da necessidade e da espera e do sonho. Ame o instante e a sua eternidade. Não perca as horas com o que acham necessário. A minha vida não te diz quem eu sou, ela te diz quem eu fui. Não se prenda ao que as pessoas foram ou serão. Encontre no presente e no instante o amor. Afinal, amor é mesmo um instante de eternidade, calor e ruídos. E mesmo que não seja amor (ainda), que seja verdadeiro. Que seja carinho e desejo. Que seja do tamanho que for, mas seja sentido. Ame de madrugada, ou na melhor hora que lhe convier. Os outros? Não viva para os outros. Não viva a vida que gostariam que você vivesse. Não viva pelos outros. A vida é curta demais, e cada segundo deve ter a eternidade apenas dos teus sonhos. Sonhe alto. Sonhe alto e se atreva a ser altamente feliz. Nem todos podem suportar a felicidade, mas ela vale a tentativa. Perca a fome, perca o sono, passe mal, mas seja feliz. Seja feliz além da compreensão alheia. O alheio é ridiculamente desimportante, mesmo que quem o diga não seja exatamente alheio. A verdade não vem dos lábios dos outros. Escolha a sua verdade e ouse amar de madrugada se quiser. Aparentemente são poucos os que compreendem o sentido de ter alguém ao seu lado quando clarear o dia. Mas se o seu dia amanhece melhor assim, então ame de madrugada. Aparentemente são poucos os que se importam com o nascer do sol, e se você for um deles, só porque alguém estava naquela hora do seu lado, ame de madrugada. Não veja com os óculos dos outros. Não perca tempo com as opiniões e manias dos outros. A sua vida existe apenas pra você, então ame de madrugada, quando é mais frio, se gostar de mais desculpas para pedir abraços. Ame de madrugada porque assim aconteceu. Ame de madrugada porque você foi fiel a si mesmo e não marcou hora para amar. Ame de madrugada porque o sol já vai nascer, e é melhor que ele nasça entre quatro braços.




* o texto já tem quase um ano, mas deveria ter vindo pra cá há menos tempo.

Cama E Travesseiro

Ele acordou com o barulho da chuva batendo direto na janela, que nem estava inteira fechada. Sentia-se estranho. Tinha algo de errado. O problema não era com os sonhos, nem mesmo com a chuva que entrava molhando, malas, mesas e o chão todo. Havia algo errado. Mas sem saber o que era, ele fez a única coisa sensata: se levantou e fechou a janela. Ele parou na frente dela, olhando através do metal que era agredido pela água. Pensava em coisas distantes. Havia algo errado. E não era o frio que ele sentia, com os pés no piso molhado. Olhou em volta, avaliando o estrago. Nada que não seque, nada que tenha sido perdido. E ainda assim, ele sabia que alguma coisa continuava errada.

Em dúvida, ele voltou pra cama. Não estava com frio. Não estava calor demais. Nada de errado com o cobertor. Talvez fosse o colchão. Talvez fosse a cama em que ele dormia todo dia havia muito tempo. Mas ele sempre viu algo de errado nas camas. As camas nunca eram certas. Não importa que tivessem um tamanho padronizado, o tamanho nunca era certo. É... devia haver algo de errado na cama... ele deitou acabado de sono, mas não conseguia dormir. Tinha algo estranho ali. Algo de fora do lugar. Algo suspeito e absurdo. Tão absurdo que ele não achava motivo. Tão absurdo que ele não sabia o que poderia ser.

E então ele não dormia, porque havia algo errado na cama. Algo incômodo. Uma ervilha debaixo do colchão? Não... mas tinha algo estranho. E o que é que era isso que não deixava que ele dormisse? Quem era o responsável por isso? Ele ficou deitado olhando o teto. Abstraindo. Esquecendo quem ele mesmo era. Se perdendo entre a tinta e os defeitos da pintura. Horas imaginando o que seria o problema. Nada de solução. E as coisas continuavam fora do lugar, erradas e mal-feitas.

Só depois de muito tempo é que ele virou pro lado, se agarrou ao travesseiro e finalmente dormiu, assustado e com remorso, porque havia algo de errado em sua cama. Ele estava magoado. Ele estava com pena dele mesmo. E o que poderia fazer? Ele nem sabia o problema. Era a mesma cama em que ele dormia toda noite. E, agora, pensando direito, parecia que esse incômodo sempre estivera lá. Um defeito da cama, só podia ser. Tinha de ter algo fora do lugar pra que ele não pudesse dormir. Algo de muito errado.

Ele finalmente dormiu, agarrado a um travesseiro, agarrado à esperança de que o problema se resolvesse. Ele se agarrou ao travesseiro, se encolheu e dormiu, num canto da cama. Ele não soube imediatamente, mas foi nessa hora que ele entendeu o que estava errado. Nessa hora, se agarrando ao travesseiro no canto da cama ele viu que o problema não era da cama, mas do que dormia nela. O problema era que aquela cama de solteiro tinha espaço demais só pra ele. Não que ela tivesse um tamanho maior, o problema era quem a ocupava.

Naquela noite, sozinho, encolhido e abraçando o travesseiro, ele entendeu, pela primeira vez, que na cama havia espaço pra mais um. E não havia ninguém para ocupá-lo. Ele achou o erro, a falha no plano. Mas, sem resolução, saber a falha era só mais uma das coisas que o manteve acordado nos dias seguintes, enquanto ele esperava que um dia não fosse um travesseiro que ele abraçaria para dormir...

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Pra Quê?

“Mas, pra quê?

Pra que tanto céu?

Pra que tanto mar, pra quê?

De que serve essa onda que quebra,

E o vento da tarde?

De que serve a tarde,

Inútil paisagem...”

Eu me derreto em versos, em linhas, em bolhas e em pedidos. Refém do tempo, esperando que você possa me dizer alguma coisa. E você não diz. O tempo me joga na cara a sua ausência. Seu tempo ocupado. Seus dias cheios sem mim. E os meus dias todos cheios de você.

Refém do tempo, amarrado àquelas grades. E não são grades da sua casa, não são grades da sua vida. Marginal, pelos quarteirões da sua vida. Sondando o seu sono. Espreitando pelo seu quintal. Pendurado no seu telhado.

Eu bato. Bato. Bato. Bato à tua porta.

Ninguém responde.

A voz dos outros cobre o meu chamado.

“Batidas na porta da frente (?)

É o tempo”

Mas era eu. Eu de novo. Bato. Bato. Bato à tua porta.

“No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te à porta...

(...)

E na tua casa... Escuta!... Uns leves passos...
Silêncio, meu Amor!... Abre! Sou eu!...”

Abre! Abre! Mas os outros ocupam muito espaço. Suas mãos ocupadas não giram a maçaneta. E eu me perco pela vizinhança, tentando te fazer me notar. Eu estava lá! Eu estou lá. Esperando. Esperando...

“I’m your stranger! JUMP!”

E pra quê?

Ainda tem o tempo. Eu continuo preso ao tempo. Ainda não tem tempo pra mim. Se fossem outros dias... se fosse outro tempo...

Nas minhas mãos, felicidade se transforma em dias que eu ainda espero que venham...

Eu volto à sua porta e bato. Bato. Bato.

Eu espero... Abre... Abre...




[respectivamente: Inútil Paisagem; Resposta Ao Tempo; Silêncio; Closer]

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Pela Janela

Abriu a janela pra ver passar o tempo. Pra ver chegar a noite. Não pensava em quase nada. Do nada, domando a paisagem, bolhas. É, ele talvez devesse revirar os olhos... não de novo! Maldita fixação. Mas ele preferiu observar. A princípio pequenas, eram lançadas pelos sopradores para o mundo. Dentro de si mesmas, um mundo particular. Um sonho particular. E sonho de quem? Ele se perguntava de quem eram aqueles sonhos, ali, à toa, com a janela aberta, enquanto o dia terminava e ele olhava um mundo cheio de bolhas.









Viravam pelos cantos, invadiam o seu quarto. Gigantes e fantásticas. Fantasias instantâneas. Tudo tão rápido que passava depressa demais. E ele sentia falta. Essas bolhas que não param de voltar... o que fazer delas? O que fazer com elas? Uma bolha é uma bolha, mas muito mais que isso, pra ele. Ele descobriu, no meio de uma noite, que elas eram palavras. Que o ar que as enchia vinha de outras pessoas. E assim como podia amar as pessoas, podia amar o que havia delas nas bolhas.









Ainda dizem que os olhos são janelas da alma. As bolhas na sua janela eram janelas pros seus sonhos. E ele sonhava. Sonhava longe, delirante e além. Longe e além, alguém talvez entendesse essas bolhas. Ah, se elas durassem. Se elas pudessem ser carregas pelos quilômetros que cobrem o caminho. Se elas pudessem viajar essas longas distâncias que certas mensagens requerem. Se elas pudessem ao menos sair de cima dos telhados daqui e chegar até outros quartos, outras pessoas, outros sopradores. Se elas pudessem brincar com eles, em volta de seus corpos como abelhas-rainhas e depois estourassem perto do ouvido, explodindo nas mensagens passadas por elas.

Quando ele notou, estava na janela soprando bolhas que diziam ‘vem pra mim’. E, por mais inocente que fosse – e ele tinha orgulho disso – ele acreditava que elas chegariam até o outro lugar. São elas mesmas, em seu tamanho e sua mágica, um mundo todo particular. E tão oco quanto a humanidade de alguém. Ah, se fôssemos todos bolhas de sabão...

Se pudéssemos ser soprados e preenchidos de mensagens, e voássemos pelo tempo, esbarrássemos nas árvores e ainda pudéssemos contar as histórias que nos contaram. As paixões que nos confessaram. Os sonhos que nos encheram. Os amores que nos sopraram.

Acima da cidade, pairaríamos por todo o céu. Choveríamos no verão pra refrescar amantes que se abraçam no chão. Derreteríamos no inverno, pra aquecer os quartos e as camas de todos eles. Além dos prédios, das árvores, da vida e da humanidade. Na altura dos sonhos, junto das nuvens. Voamos. Escorremos por essa massa de vontades que transpiram no ar. Seríamos carregadas por tantos desejos evaporados da pele das pessoas. É assim que as bolhas flutuam. É assim que nós flutuamos. É assim que autores escrevem. Poetas fazem poesia. Fotógrafos registram momentos. Atores representam sonhos. É assim que amamos e que vivemos.









Se durássemos pra sempre. Se não fôssemos esse sonho tão rápido... Reinaríamos. Gigantes absolutas. Senhoras dos homens. E como senhoras, os serviríamos tão bem... viveriam eles dentro desse mundo que nós propomos. Preencheriam o vazio de nosso brilho, com suas próprias idéias. Nada seria tão lindo... tudo seria maravilhoso, encantador e inesquecível.
















Assim ele se pegava na janela, como um apaixonado, cochichando segredos para uma bolha. Assim ele se pegava na janela, apaixonado pela noite e pelo que lhe contavam as bolhas, enquanto escurecia.

terça-feira, dezembro 18, 2007

Pedido

Pela primeira vez ele se magoou por não fazer parte da vida de alguém mais cedo. Pela primeira vez ele ficou meio perdido por não saber o que fazer. Quem eram os outros e se eles existiam mesmo... tempo passado e tempo presente. No emaranhado desconexo dos sonhos dele tudo fazia sentido. Acordado ele tinha medo. Medo de não ser o suficiente. Medo de não sorrir o bastante, medo de não conseguir aquele lugar. AQUELE lugar. Aquela posição, presa entre os dentes, entre os dedos, entre as rugas dele. Ele queria se fazer pra sempre até na pele. Viu fotos velhas dele. Se contorceu por não fazer parte daquela vida. Daquela alegria. Daquele sentimento qualquer que fosse. Precisava disso. Queria demais. Um desejo descontrolado de ser parte de alguém. E ele, que sempre foi descontrolado, descontrolado então, como nunca antes. Sem parar de olhar, de procurar, um rastro, uma pegada, uma lembrança. Um “eu te quero” que tivesse se escondido nas palavras dele. Ele só queria ser querido por quem ele queria tanto. Mentira. Ele queria fazer do outro a pessoa mais feliz do mundo. Ele queria ele mesmo ser a pessoa mais feliz do mundo. Ele sonhava noite e dia. Na janela, vendo a noite passar. Tinha uma música ao fundo, mas ela não importava tanto. Ele queria um abraço que o vento não podia trazer. Ele queria que ele quisesse o abraço e o desse, mesmo sem o vento poder fazer qualquer coisa. Vontade de ter algo de volta. Mas ele tinha. E o tempo todo ele sabia que tinha. A lembrança de uma olhada rápida e pelo canto. Aquilo era o suficiente pra toda a vida. Um beijo que ele só imaginou. Era o bastante pra vida toda. Mas ele vive a vida toda o tempo todo. O que ele faz, se tudo o que ele tem é ssa vontade sem controle? Ele se perde na própria cama pra pensar em você! E ainda sim ele se desespera porque quer ouvir alguma coisa. Um “eu te quero” que tenha ficado perdido entre os dentes. Um “eu te quero” que tenha sobrado na saliva. Porque ele só consegue pensar em você. Em todo lugar. Você é tudo o que ele vê. Ele não consegue segurar, não consegue esconder. Não é como se ele estivesse sempre prestes a chorar, mas ele está sempre prestes a explodir pelos olhos. Vem e diz pra ele que ---. Diz qualquer coisa. Ele só precisa saber de você. Sabia que ele se mata de vontade de conhecer a sua voz? De saber a cor de verdade dos seus olhos. De sentir o cheiro do seu cabelo e o peso da sua mão. Ele se desdobra. Se contorce. Se morde e te deseja. Ele dorme e é só você por todo lado. Você. Você. Você. Você. Espalhado pela cama. Agarrado nos braços. Em toda parte. Tudo é um atalho pro seu rosto. Tudo é um caminho pra sua vontade. E você? Ah se ele soubesse. Ele só quer te fazer feliz. Feliz demais. Eu. De você, a pessoa mais feliz do mundo. E eu a pessoa mais feliz do mundo. É só. É tão bobo, tão simples, tão fácil. A gente esquece o mundo e foge. A gente pode voltar. Eu não quero te tirar de tudo o que você gosta. Agora tem coisas que eu entendo melhor. Eu só quero ouvir a sua voz. Não uma declaração, nem um pedido. Qualquer palavra que você puder me dizer. Vem. Então fala pra mim e me derrete. Me desfaz. Acaba comigo, por favor. No fim das contas eu quero mesmo acabar do seu lado. Eu quero mesmo acabar com você.

Essa noite não me existe outro jeito de ser feliz. Vive isso comigo?




Henrique Rochelle Meneghini

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Sopradores

Vendo as árvores que balançavam, eu me sentei na janela pra soprar bolhas. O vendo era forte demais. Me arrancava elas todas. Arrastava pra esquina da minha parede e elas me esqueciam e iam se perder em outros lugares. Eu fiquei olhando. Admirado que essa mensagem me fosse dada assim. Sutil, ela escorregava pelos meus dedos e estourava na minha cara ou longe de mim. Por que é que o vento também não me levava? Ele era mais forte que eu. Eu não fazia esforço. Eu só olhava as bolhas que eu soprava sendo arrastadas pra longe de mim. Tocava uma música triste, mas que música não seria triste nessa hora? Eu estava sozinho. Sozinho sobre o vento da cidade e acima de milhares de cabeças. Eu amava essa janela. Mas por que uma janela que só se olha sozinho? O que se faz com a sombra das árvores ao vento sem ninguém na cama quente pra fazer companhia? A luz de dentro era vermelha. Misturando tudo o que eu queria. Tudo o que eu pensava. Misturando tudo o que eu via. E eu só esperava que esse vento todo me misturasse com o fundo. Que esse vento todo me arrastasse e me levasse com as bolhas. Eu só queria que esse momento fosse estático e que o mundo todo aguardasse em silêncio, calmaria e desejo o que eu quero.



Henrique Rochelle Meneghini

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Não É Insônia. É Uma Noite Sem Nada

Tem faraós e seguidores de uma seita maldita castrando e sacrificando crianças nessa noite. Pelo chão da casa tem restos de animais mortos. Eu ando no pouco espaço do meu quarto rodando e procurando uma saída. A porta está fechada. A porta está fechada. A porta está fechada. A porta está fechada. Eu quero sair, mas o ar está todo cheio desse cheiro insuportável de morte e produtos de limpeza. Cadê a grama? Eu acho que eu enlouqueci. Está me ouvindo? Alô? Me tira daqui. Me tira daqui. Me tira daqui. Essas ficções todas me irritam. Eu quero mais castelos! Eu quero mais castelos. EU QUERO MAIS CASTELOS! Que inferno. Não pode ser tão difícil. Abre a porta. Desce. Come. Bebe. Liga. Desliga. Deita. Liga. Desliga. Lê. Liga. Desliga. Deita. Levanta. Corre pelo quarto. Tem alguma coisa vibrando em algum lugar e o barulho me enerva. Que explodam o mundo, que enforquem as flores! Eu não entendo essa noite. Maldito pôr-do-sol-de-hoje. Que dia é esse? O que é que está errado? Sempre foi assim. Fecha os olhos e dorme, mas não há sono. Não há nada nessa noite absurda e eu não sei o que fazer. Por todos os lados, os sons são estrangulados pelas teclas. Abro e fecho livros, só criticando. Sem nenhuma vontade de saber as histórias. Entende? Elas não têm castelos! Talvez eu devesse comprar. Tem alguma coisa 24h por aqui? Um acervo de manias estranhas se me mostra. E o que eu faço? O que eu faço? Ah... eu acho que devo experimentar. São como drogas. Imagino que sejam. Devia perguntar praquele autor. Ele gosta tanto de escrever sobre elas. Malditas pessoas que viveram mais que eu! Malditas todas as pessoas que tiveram algo que eu não tive! Eu devia me matar pra poder escrever sobre isso. Todo mundo gosta de um autor bem morto. Tem coisas fora do lugar em todos os lugares. Os lugares então têm coisas? Porque coisas têm lugares e lugares não têm nada? Eu não queria ser um lugar. Não importa. As pessoas escrevem ‘onde’ pra lugar, pra pessoa, pra ação e pra pensamento, mesmo. Somos tudo lugares. E o desmerecimento me angustia. Eu sou uma personagem auto-narrada. Eu odeio narradores-personagem. Eu odeio a falta de discrição da própria narrativa. Eu me sinto sem roupas em frente a bancas examinadoras. Levanta. Anda pelo quarto. Respira. Respira. Digita. Está passando. Maldição, está passando. E eu não vou mais ter o que fazer. Sem sono. Sem nada. Que noite é essa? Tem maníacos matando e estuprando vítimas sem nome, então eu não me importo com elas. Eu não conheço os rostos delas, então eu não me importo com elas. Não me importo, não me importo, não me importo. E não me fale que eu minto. É mentira. Mas não me acuse. Eu não sou culpado pelos crimes dos outros. Eu nem tenho os meus. Eu odeio as pessoas que mataram mais que eu. Odeio os que roubaram mais que eu. Odeio todos os que fizeram alguma coisa que eu não fiz. Está passando. Inferno. E a noite não vai acabar. Exaustão, sim, mas o travesseiro deixou de ser descanso. Eu quero mais castelos. Me enterre debaixo de um castelo quando eu morrer!. Eu odeio as pessoas que moraram em castelos. Odeio todas as lembranças malditas das suas desgraças. Guarde os seus demônios pra você, idiota. Eu não me importo. Eu não me importo. Eu só quero mais castelos. Eu preciso de mais castelos antes de dormir. Comprimidos eu não tenho. Odeio quem tem comprimidos. O sono artificial deve doer. Tudo dói, no fim das contas. Tem pedaços de gente pela minha garganta e eu não sei mais gritar. Levanta. Desliga. Anda pelo quarto. Malditos. Odeio todos. Todos vocês. Não importa. Se convença de que não importa. Não importa. Fecha os olhos. Sono turbulento e sem esperança. Levanta. Anda em volta do quarto. Não tem saída. A porta continua fechada. Fechada. Eu fechei a porta. Eu fechei. Não tem saída. Eu vou afogar entre os restos dos outros. Não consigo parar. Eu quero dormir. Não tem nada nessa noite. Não tem sono, nem esperança. Os loucos gritam do lado de fora da janela, correndo desvairados pela rua. E eu só posso odiar não ser um deles. Eu odeio essa noite. Eu odeio.




Henrique Rochelle Meneghini