quinta-feira, outubro 22, 2009

Velha História

Eu acho que eu entendi. Eu percebi, um pouco antes de virar a chave de casa. Você não podia. Você não dizia, você não contava. Mas eu sabia pra onde isso ia, e só faltava decidir se eu te facilitava ou se continuava jogando. Jogos de um só, pra quem não sabe dormir, não importa a temperatura da noite. Era preciso dançar, comer, era preciso sorrir, então eu sorria, como se eu gostasse da noite, pra te deixar mais sem jeito. E nem tinha jeito de fazer você me olhar. Você ali, que já vinha. Você ali, trancado no banheiro. Debruçado sobre a pia e todo vermelho de mãos dadas. As minhas mãos soltas, procurando uma direção que não fosse a sua, quase como um pedido de desculpas, por dar trabalho, por insistir. Mas com aquela velha história você me deixava pendurado e eu procurava o sentido tentando mudar a minha rotina. Encaixar minhas horas nas suas, sem saber que não importava. Eu voltava pra casa sozinho, me perguntando sozinho por quê só eu esperava resposta. Era coisa de vinte minutos. Quatro mãos, duas bocas e o que dava pra fazer. Mas eu voltava pra casa espantado, pra saber o que poderia ser, sem saber que não importava. Questão de pele? De altura? Era o formato da minha boca? Era minha língua que não entendia a sua? Não sabia. Eu andava sozinho, num minuto de silêncio. Pelo que não fomos e não te incomodava, apesar de me deixar escrevendo, às três da manhã. Esperando às duas. O que eu faria às quatro? Como todos os outros, éramos enigmas a ser respondidos. Eu brincava sozinho e nossas soluções eram desimportantes. Desimportantes depois de me cumprimentar, se trancar, se debruçar e, todo vermelho, mas sem vergonha nenhuma, me deixar de longe. Aquela velha história de eu já volto, e eu voltando pra casa sozinho, esperando que um de vocês voltasse.








Henrique RM

domingo, outubro 04, 2009

Covardia

À “Tarde”,
eu só lembrava de pedir
“Ouve o Silêncio”
por mais que tocasse um
“Samba em Prelúdio”,
porque depois de toda a “Ternura”
eu não podia mais com nenhum
“Soneto de Inspiração”

de Vinícius

que eu arranquei,
me partindo o coração,
junto com um laço enorme,
de 300 páginas velhas
e guardei escondido
no fundo dos meus olhos
pra não pensar de frente,
com ou sem resposta,
em tudo que eu deixava pra trás.







Henrique RM