segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Recém-Chegado a Campinas

obs. Se você não faz idéia de por que eu estou em campinas ou de quem eu sou, prossiga para a próxima leitura disponível nessa página, ela pode ser mais interessante que essa.
Bom, finalmente eu estou em campinas!!! Depois de um passeiozinho com a Tati por aqui eu já sei o nome de algumas avenidas (não que isso possa vir a me ajudar a me localizar, posto que eu sei SÓ o nome). A cidade é bastante interessante, bastante bonita e o Parque Dom Pedro é perto daqui!!!! 5min de carro!!! Senhor que coisa mágica!

Amanhã é o dia da confirmação da matricula e apesar de eu ter dormido pouquíssimo de ontem pra hoje e hoje ir dormir só depois das duas da manhã (Oscar é imprescindível, mesmo que O Labirinto do Fauno não tenha ganhado por melhor filme estrangeiro) eu devo acordar as 8 pra me trocar e depois achar meu caminho até o ponto de ônibus que –diz o tiozinho do telefone de informações - está há apenas dois quarteirões e meio ou três, ir para a unicamp e então descobrir o que será do resto do meu dia

!!!!!


Emocionante de fato, mas o sono e a vontade de voltar pro quarto da Tati pra ver o que se passa no Oscar (alguém mais está amando os bailarinos??? O que foi aquilo na apresentação de figurinos??? demaaaaaaaaais) me obrigam a parar com o texto.

Mais novidades sobre minha estada em campinas serão divulgadas quando eu tiver vontade/tempo ou quando eu bem entender

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quinta-feira, fevereiro 01, 2007

A Solidão Daquela Senhora De Tchetchelnik

Essa é minha homenagem à Clarice Lispector e à sua A Hora da Estrela, que foram solidão de companhia pra minha nessa semana que tá acabando. Sem Ela e a Obra (alem de Mrs. Dalloway da Virginia Woolf) eu não teria achado um bom motivo pra ficar acordado até as 6 da manhã e teria só me torturado e odiado a tudo e a todos. O livro é obviamente uma indicação minha pra qualquer pessoa com uma profundidade pessoal maior que uma xícara de chá.

Em Clarice eu encontrei o asilo da humanidade e sombra da piedade pelo sofrimento humano. Ocasionalmente eu me pergunto se a gente não é mais que só um pouco a mais que nada. Macabéa se sentia nada, ou não, nem isso. Ela não se sentia. Ela não fazia idéia de quem era porque tinha medo. “Se tivesse a tolice de se perguntar ‘quem sou eu?’ cairia estatelada e em cheio no chão. É que ‘quem sou eu?’ provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto.”. Mas quem é que sabe quem é? Sobre sua vida, ela foi triste e sofrida, como a de qualquer outra pessoa, mas com uma alegria escondida e perdida na infância, da qual ela se lembrava às vezes e gargalhava “A gargalhada era aterrorizadora porque acontecia no passado e só a imaginação maléfica a trazia para o presente, saudade do que poderia ter sido e não foi.”. Mas isso não fazia dela uma pessoa infeliz, “Ela pensava que a pessoa era obrigada a ser feliz. Então era.” e não tem muito o que ser falado sobre isso, porque por mais que alguns se neguem a admitir, nós todos nos fazemos felizes ocasionalmente porque achamos que assim é certo. Ninguém quer estar perto de pessoas tristes e o ser humano precisa de companhia, ou pelo menos aprendeu assim. É preciso ter alguém na vida, mas macabéa? “Ela era incompetente. Incompetente para a vida.”. Acho que, de verdade, ela só era viva porque tinha medo da morte, e talvez tivesse medo da morte porque a tia (sádica e religiosa) que a criara a ensinara assim, então “defendia-se da morte por intermédio de um viver de menos, gastando pouco de sua vida para esta não se acabar.” e como todos, se privou de ser feliz por medo.

Na minha opinião a idéia é se perder e se achar nas personagens. Mas isso é verdade demais... pra que falar a verdade (e dessa pergunta eu garanto que você já se aproveitou), afinal “(A verdade é sempre um contato interior inexplicável. A verdade é irreconhecível. Portanto não existe? Não, para os homens não existe.)”, mas Macabéa nunca pensou nisso ou talvez nem tenha pensado em qualquer cosia de verdade, a sua opinião, se é que pode se chamar assim, era que “tinha vergonha da verdade. A mentira era tão mais decente.”. E quem é que fala a verdade? Junte “só sou verdadeiro quando estou sozinho.” e “Eu sou sozinha no mundo e não acredito em ninguém, todos mentem, às vezes até na hora do amor, eu não acho que um ser fale com o outro, a verdade só me vem quando estou sozinha.” e você tem a resposta. Ninguém é capaz de dizer a verdade porque ela não existe para duas pessoas diferentes ao mesmo tempo. Macabéa falou ali de amor, coisa que ela nunca conheceu, assim como muita gente nunca vai conhecer “conheceria ela algum dia do amor o seu adeus? Conheceria algum dia do amor os seus desmaios?”.

Afinal, após uma visita a uma cartomante ex-prostituta ex-caftina atual fã de carteirinha de Jesus e “doidinha por Ele”, que lhe conta sua curiosíssima vida (“Eu tinha um homem de quem eu gostava de verdade e que eu sustentava porque ele era fino e não queria se gastar em trabalho nenhum. Ele era meu luxo e eu até apanhava dele. Quando ele me dava uma surra eu via que ele gostava de mim, eu gostava de apanhar. Com ele era amor, com os outros eu trabalhava.”), que morava num lugar que Macabéa via como “luxo. Matéria plástica amarela nas poltronas e sofás. E até flores de plástico. Plástico era o máximo. Estava boquiaberta.” A nossa personagem principal se sente grávida de futuro e sai de lá feliz da vida e é atropelada. Talvez fosse essa a felicidade dela. Ela que até teve tempo pra reparar no capim nascendo entre as pedras da calçada, enquanto morria sem saber. Sim, Macabéa vai morrer. “há momentos em que a pessoa está precisando de uma pequena mortezinha e sem nem ao menos saber.” Mas não tem porque se entristecer por ela. Macabéa conseguiu vomitar sua estrela de mil pontas, dar à luz si mesma e, no fim das contas, “A vida é um soco no estômago.”. Muito mais do que se deve esperar alcançar. Estrela de mil pontas não é pra qualquer um...

Quanto a mim, bom... “Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora eu só queria ter o que eu tivesse sido e não fui.” e foi assim que eu fiquei sozinho. Eu “Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.”.

As palavras me fogem, “Cada coisa é uma palavra. E quando não se a tem, inventa-se-a.”. e às vezes estamos em solidão até de palavras. Mas tudo se arruma, tudo se arranja com o tempo e com algumas boas mentiras. É importante mentir. É importante convencer a si mesmo da sua vida. Viver é parte da coisa...

Um dia de cada vez, então.
Sim... mais uma vez, um dia de cada vez.
Mais um dia!



* Citações retiradas da 24ª edição de A Hora Da Estrela de Clarice Lispector, de Editora Rocco.
* Johnny, esse post é pra você, que eu acho que de tanto ler Clarice, fala comigo com gosto (porém como dobro de travessões ;D) de Rodrigo S. M. (na verdade Clarice Lispector, como na observação da Dedicatória do Autor)

Minhas últimas palavras?
A CULPA É MINHA ou A HORA DA ESTRELA ou ELA QUE SE ARRANJE ou O DIREITO AO GRITO ou QUANTO AO FUTURO ou LAMENTO DE UM BLUE ou ELA NÃO SABE GRITAR ou UMA SENSAÇÃO DE PERDA ou ASSOVIO NO VENTO ESCURO ou EU NÃO POSSO FAZER NADA ou REGISTRO DOS FATOS ANTECEDENTES ou HISTÓRIA LACRIMOGÊNICA DE CORDEL ou SAÍDA DISCRETA PELA PORTA DOS FUNDOS