quarta-feira, julho 22, 2009

Respirar

Eu digeri (seu rosto)
observando de perto
(o balanço dos) seus olhos,
medindo o peso das suas conjugações
e (a tônica do) meu próprio nome,
procurando
(por você)
por um jeito de saber se (se) sentia,
(se) me percebia.
Pra (me) perder entre seu cabelo,
me prender entre (seus) dentes
como lembrança doce.
Pra saber
(se você sabia)
que eu disparo. Com
você na cadeira do lado.
E nenhum (nenhum. Nenhum.)
motivo
pra eu não pular
sobre sua mão.
Te respirar entre as narinas.
Vontade (minha) atrás da orelha.
Atrás de você.
Correr os anos (todos)
atrás (de você).
Sem saber se
(chega)...
(É) seu (o) rosto (que pisca)
debaixo do meu lençol.
E quando eu olho
(pra direita)
você olha de volta
(no escuro).
Na sua frente
(eu me desmancho, me dissolvo),
pra ver (se) você
(me respira).
Me falta o ar.
Sem jeito para juntar
as sílabas.
Te chamar (de meu)
e fazer sentido.
Com você, talvez eu fizesse
(mais sentido).
(Tomo água) pra saber
que eu (não posso,)
não consigo não querer.
Eu acordo (três vezes) de madrugada
(com sede).
Eu (não tenho sono,)
tenho falta de dormir
(do seu lado).
Pra (te) contar as estrelas
nas suas pálpebras,
e sentir com a boca
(o sol nascer sobre você),
respirando o seu gosto,
quente e desperto
(do meu lado) e calado,
como se fosse sonho
(e acordássemos em seguida
pra darmos as mãos
e dormirmos abraçados).







Henrique RM

segunda-feira, julho 20, 2009

Por Dia

Eu continuei pelo caminho escrevendo seu nome como se me desse algum conforto e contando, pra todo mundo que eu vi, a história do que podia ter sido, como se isso fosse mais perto do que eu queria. Eu repassei, de novo e outra vez, cada detalhe que eu lembrasse, pra ver se isso me fazia sentir melhor. Com os dias, a sua imagem se distorceu, seu rosto borrou e eu achei que perdesse a importância. E você continuava por aqui, de um jeito que prendia o olhar pra me avisar que eu ainda lembro, pra me avisar que junto com a última vez que a gente se despediu, ficou um pouco de vontade minha de gritar. Eu grito antes de dormir pra saber que ainda faz sentido. Sem ter as palavras, sem saber o que fazer, sem nem me querer, sem querer você acertou em cheio. Eu fico enganando o sono, achando que você perceberia. Eu fico atrasando a hora, como se você sorrisse olhando pra trás. E você não olha. Eu te escreveria por dia uma carta pra te dizer como seria perfeito, mesmo achando que você nunca iria concordar. E você continua. Eu fico. E me deito achando que você volta. Não pra mim.





Henrique RM