segunda-feira, março 26, 2007

A Trilogia Da Perda / Amor De Três Dias

Mais uma vez eu achei que ganharia asas e mais uma vez Ícaro caiu ao mar. Meus sonhos não diminuem, minhas perspectivas é que fenecem e tombam entre as folhas do anunciado outono.


I – À Noite

Escureceu, calaram-se as vozes e é noite lá fora.
Mas aqui dentro, dentro do teu abraço, o calor é enorme.
O tempo é enorme e eu te vejo dormir.
Sonha comigo. Sonha comigo que eu só sonho contigo.
Eu te sussurro que te quero e tu já não me ouves.
E eu quero tanto.
Nem mais posso dormir, que te quero já outra vez.
Minha respiração ainda é pesada
e eu me inclino à fraca luz da janela para extravasar o desejo.
Do outro lado, tudo se calou.
Escureceu e é noite do lado de fora.
Mas, aqui dentro, é quente a madrugada de outono.
Esse segundo não tem preço.
Esse momento já é eterno.
Da cama, a tua respiração me chama.
Espera, amor, já vou.
Essa noite é longa e amanha é só o segundo dia.


II – Outono

Ah, se eu já te pudesse falar tudo o que é...
Haveria mais entre nós dois do que o tempo da minha vida.
Haveria mais entre nós dois do que algumas palavras perdidas.
Nesse outono, eu sou a primeira folha a cair aos seus pés.
E se você simplesmente resolver viver, passa por cima de mim.
Viver exige tempo e cuidado.
Folhas caídas pesam mais do lado de dentro.
Se eu soubesse, eu te diria. Mas eu nunca soube.
Há perguntas que se calam quando a boca quer gritar.
E tudo acaba se tornando uma eterna afirmação.
Eu posso te dizer que te quero à noite toda, e tu não responderás.
Posso te dizer que te quero olhando nos teus olhos e aguardar resposta.
E que reposta há? Entre nós, há pouco mais que algumas horas.
Será que eu corri tanto, que já vivi do teu lado e sozinho?
Eu corri. Mas eu achava que tu corrias também.
Já não sei. São primeiras impressões. Primeiros retratos.
E nem sempre confiáveis.
Ah, temos todo o tempo que quisermos, todo o tempo do mundo.
Eu quero tanto que não há tempo pra mais nada, às vezes.
Minha respiração talvez seja diferente da sua,
mas nossos corpos se encaixam.
E nada é melhor que dormir nos teus braços.
E que sei eu disso?
São duas noites. Nem dois dias. Algumas horas apenas.
E tantos sorrisos que me deste já.
O que eu faço com eles? O que quiser – me respondes.
O que eu quero? Eu quero os teus sorrisos.
Eu prometi te fazer feliz.
Você me pediu que eu te esperasse e eu esperei.
Sozinho e só teu, mesmo antes de haver um tu aqui.
E agora? Que queres fazer de mim?
Eu sou folha caída esperando uma mão que me recolha
e passo a noite acordado, pensando nessa mão.
Eu gostaria de dizer que já te entendo.
Eu gostaria de dizer que já te conheço.
Eu gostaria de dizer que já vivemos bastante, mas temos só algumas horas.
E não é que o tempo é infinito?
Nos seus segundos eu me perdi e me fiz perder.
Eu me perdi entre os seus sonhos e me encontrei nos seus olhos.
Me encontra também? Me procura. Me recolhe e desperta pra esse dia.
Hoje o sol nasce mais cedo pra nós dois.
Hoje o sol nasce no horário de sempre e eu só me importo com nós dois.
Me dá essa tua noite.
Me dá esse teu sonho.
Eu quero ser alimento pros teus sonhos e razão pra tua felicidade.
Apressado. Eu sei... mas eu achava que estávamos apressados juntos.
Só não me acorde e me diga que eu me enganei.
Não há engano naquilo que se sente.
O coração sabe a verdade e a razão a deturpa.
Sente meu coração batendo de encontro ao teu peito?
Não há mais nada.
Não fale nada, então. Só me deixe sentir suas mãos junto das minhas.
Só me deixe saber que corremos juntos.
Só me deixe acordar entre os teus braços.
Só me deixe acreditar, com as palavras sem letras que você quiser me mostrar,
que nós não erramos, nós não fugimos e nós nos demos uma chance.
Então viveremos, já que acreditas que o importante é deixar viver.
Deixemos viver. Deixemos o tempo decidir o amanha.
Mas hoje, hoje me diga, mesmo que sem palavras, que me queres aqui.
E eu ficarei.
Esse é o primeiro dia do nosso outono, a primeira estação da nossa era.
E tu me disseste que eu nunca mais dormiria sozinho.
Não, eu não quero ser teu fardo.
Eu quero ser teus sonhos.


III – Decepção

Foram só duas noites no seu abraço. E tu me disseste que eu nunca mais dormiria sozinho. Uma noite sem dormir e com seis horas de choro não diminuiu a perda do que nunca foi meu. Mais alguma sugestão?
Você não foi o maior dos meus amores, nem o melhor dos meus beijos, nem o mais feliz dos meus sonhos, nem a mais gostosa das minhas noites. E ainda assim, você é o que eu queria essa noite. Isso diz tanto. E eu duvido que você entenda algo. De tudo o que você poderia ter sido você só foi a minha maior decepção.






Henrique Rochelle Meneghini

sábado, março 10, 2007

O Peso Do Tempo

E se eu te perguntar o peso do tempo? Do que foi, o que fica e se arrasta sobre nós e nos aleita e esquenta e protege da noite fria, como cobertores de folhas secas? O que me dá motivos pra repousar a cabeça no colo solitário da grama molhada e esperar novos ventos? Tu me soprarás um dia. E quando é um dia? Ah... um dia ou outro a gente descobre, a gente resolve. Um dia ou outro a gente desperta na grama molhada e fria e não encontra uns braços à nossa volta. E o que é que você queria nesse dia? Todos os seus sonhos daquela noite são passado. Nada mais volta. Agora você só quer um novo desejo, uma nova alegria. E essa alegria te grita de dentro o dia todo. Bate à sua porta e quer entrar. Abre a porta. Mas o que espera do outro lado? O outro lado é misterioso, e ansiedade é quase gula. Um pé pra fora não é um passo. Um pulo, então. E o que vem dele? Debaixo do degrau te espera um abraço e o carinho com que você sempre sonhou? Você espera. Você sonha.Você acorda e sonha acordado o dia inteiro. Você sorri o tempo todo pra alguém que não te vê. Pra alguém que você queria tanto ver. Mesmo que todos vejam seus sorrisos, ninguém vê a sua felicidade. Felicidade é nome próprio. E esse nome você guarda no fundo de si. Esse nome você esconde e diz baixinho o dia inteiro até que ele faça parte de você. E ele te doma. E ele te toma e te abriga e te faz morada. Ele te faz companhia o dia todo e todo o tempo você sonha. Todo o tempo você deseja. Todo o tempo é enorme vontade. E não há braços, nem abraços. Você é apressado. Você não se mede. Você não tem limites. Não há tempo! E como poderia haver? Você tem toda a vida, todo o tempo do mundo! Não pode haver tempo! Você corre e grita. E aqueles braços não te vêm acompanhar. A distância cai com um baque surdo sobre seus ouvidos. Pressa. Pressa. Não há mais tempo. Eu preciso correr. Eu tenho um caminho a correr. Eu preciso correr na direção incerta dos teus braços e me atirar ao teu peito. Me espera? Me espera de braços abertos? Ah, me espera. Me espera e me pega e me carrega. Me carrega e me leva pro fim do tempo.

(Mas se não me esperar, se não me abraçar e me amar, eu corro então pra solidão do vazio do outro lado do degrau onde estariam seus braços e me precipito no abismo de saudade. Eu me perdi porque não houve tempo. Eu me perdi porque fui vida e não fui tempo. Me esvaí de tempo e me atirei ao mar. Eu cai? Tudo depende... qual é mesmo o peso do tempo? Não me importa... você me diz. E eu vou acreditar.)





Henrique Rochelle Meneghini

domingo, março 04, 2007

Procura

Eu procurei por todos os cantos a sua sombra. Por todas as páginas eu busquei esse que devia ser O Seu Santo Nome. Mas depois de um tempo a gente se deita na grama e respira fundo, tentando aceitar que algumas coisas não podem ser encontradas. Eu procurei por todos os lados e rostos um sinal da sua presença e não havia nada. Em todos os lugares, em todos os corpos, e nem sinal da sua passagem. O que será que foi feito de você? Virou mito? Emudeceu-se a canção? Despertaram-se os sonhos? Eu deitei na grama e aceitei a solidão. Solidão... saudade é a pior coisa do mundo, mas saudade preenche, ao menos. Solidão? Solidão esvazia, solidão nega, abandona e desespera. Solidão amarga e amarra os lábios já secos e tão distantes de outros. Eu me cansei e me deitei, porque já não havia o que fazer. Eu tentei. Eu juro que tentei. Eu tentei disfarçar e aceitar metade da barganha. Metade de tudo. Mas o que fazemos com o que não tem meios termos? Tudo ou nada até o fim, você é impedido por todos os lados de continuar. Mas eu continuei. Até que não agüentei, me deitei na grama e passei a olhar a abstração azul celeste e esperar como presente divino uma realização. Como presente divino, um sinal me viria provar que em algum lugar você ainda se esconde e não está pra sempre perdido. Ainda há esperança. Há? Há... no fundo de todas as palavras que você já me incitou a escrever ainda geme um eco soluçando o teu nome, o meu sonho, o que eu procuro: 'Amor'.






Henrique Rochelle Meneghini