A Trilogia Da Perda / Amor De Três Dias
Mais uma vez eu achei que ganharia asas e mais uma vez Ícaro caiu ao mar. Meus sonhos não diminuem, minhas perspectivas é que fenecem e tombam entre as folhas do anunciado outono.
I – À Noite
Escureceu, calaram-se as vozes e é noite lá fora.
Mas aqui dentro, dentro do teu abraço, o calor é enorme.
O tempo é enorme e eu te vejo dormir.
Sonha comigo. Sonha comigo que eu só sonho contigo.
Eu te sussurro que te quero e tu já não me ouves.
E eu quero tanto.
Nem mais posso dormir, que te quero já outra vez.
Minha respiração ainda é pesada
e eu me inclino à fraca luz da janela para extravasar o desejo.
Do outro lado, tudo se calou.
Escureceu e é noite do lado de fora.
Mas, aqui dentro, é quente a madrugada de outono.
Esse segundo não tem preço.
Esse momento já é eterno.
Da cama, a tua respiração me chama.
Espera, amor, já vou.
Essa noite é longa e amanha é só o segundo dia.
II – Outono
Ah, se eu já te pudesse falar tudo o que é...
Haveria mais entre nós dois do que o tempo da minha vida.
Haveria mais entre nós dois do que algumas palavras perdidas.
Nesse outono, eu sou a primeira folha a cair aos seus pés.
E se você simplesmente resolver viver, passa por cima de mim.
Viver exige tempo e cuidado.
Folhas caídas pesam mais do lado de dentro.
Se eu soubesse, eu te diria. Mas eu nunca soube.
Há perguntas que se calam quando a boca quer gritar.
E tudo acaba se tornando uma eterna afirmação.
Eu posso te dizer que te quero à noite toda, e tu não responderás.
Posso te dizer que te quero olhando nos teus olhos e aguardar resposta.
E que reposta há? Entre nós, há pouco mais que algumas horas.
Será que eu corri tanto, que já vivi do teu lado e sozinho?
Eu corri. Mas eu achava que tu corrias também.
Já não sei. São primeiras impressões. Primeiros retratos.
E nem sempre confiáveis.
Ah, temos todo o tempo que quisermos, todo o tempo do mundo.
Eu quero tanto que não há tempo pra mais nada, às vezes.
Minha respiração talvez seja diferente da sua,
mas nossos corpos se encaixam.
E nada é melhor que dormir nos teus braços.
E que sei eu disso?
São duas noites. Nem dois dias. Algumas horas apenas.
E tantos sorrisos que me deste já.
O que eu faço com eles? O que quiser – me respondes.
O que eu quero? Eu quero os teus sorrisos.
Eu prometi te fazer feliz.
Você me pediu que eu te esperasse e eu esperei.
Sozinho e só teu, mesmo antes de haver um tu aqui.
E agora? Que queres fazer de mim?
Eu sou folha caída esperando uma mão que me recolha
e passo a noite acordado, pensando nessa mão.
Eu gostaria de dizer que já te entendo.
Eu gostaria de dizer que já te conheço.
Eu gostaria de dizer que já vivemos bastante, mas temos só algumas horas.
E não é que o tempo é infinito?
Nos seus segundos eu me perdi e me fiz perder.
Eu me perdi entre os seus sonhos e me encontrei nos seus olhos.
Me encontra também? Me procura. Me recolhe e desperta pra esse dia.
Hoje o sol nasce mais cedo pra nós dois.
Hoje o sol nasce no horário de sempre e eu só me importo com nós dois.
Me dá essa tua noite.
Me dá esse teu sonho.
Eu quero ser alimento pros teus sonhos e razão pra tua felicidade.
Apressado. Eu sei... mas eu achava que estávamos apressados juntos.
Só não me acorde e me diga que eu me enganei.
Não há engano naquilo que se sente.
O coração sabe a verdade e a razão a deturpa.
Sente meu coração batendo de encontro ao teu peito?
Não há mais nada.
Não fale nada, então. Só me deixe sentir suas mãos junto das minhas.
Só me deixe saber que corremos juntos.
Só me deixe acordar entre os teus braços.
Só me deixe acreditar, com as palavras sem letras que você quiser me mostrar,
que nós não erramos, nós não fugimos e nós nos demos uma chance.
Então viveremos, já que acreditas que o importante é deixar viver.
Deixemos viver. Deixemos o tempo decidir o amanha.
Mas hoje, hoje me diga, mesmo que sem palavras, que me queres aqui.
E eu ficarei.
Esse é o primeiro dia do nosso outono, a primeira estação da nossa era.
E tu me disseste que eu nunca mais dormiria sozinho.
Não, eu não quero ser teu fardo.
Eu quero ser teus sonhos.
III – Decepção
Foram só duas noites no seu abraço. E tu me disseste que eu nunca mais dormiria sozinho. Uma noite sem dormir e com seis horas de choro não diminuiu a perda do que nunca foi meu. Mais alguma sugestão?
Você não foi o maior dos meus amores, nem o melhor dos meus beijos, nem o mais feliz dos meus sonhos, nem a mais gostosa das minhas noites. E ainda assim, você é o que eu queria essa noite. Isso diz tanto. E eu duvido que você entenda algo. De tudo o que você poderia ter sido você só foi a minha maior decepção.
Henrique Rochelle Meneghini
I – À Noite
Escureceu, calaram-se as vozes e é noite lá fora.
Mas aqui dentro, dentro do teu abraço, o calor é enorme.
O tempo é enorme e eu te vejo dormir.
Sonha comigo. Sonha comigo que eu só sonho contigo.
Eu te sussurro que te quero e tu já não me ouves.
E eu quero tanto.
Nem mais posso dormir, que te quero já outra vez.
Minha respiração ainda é pesada
e eu me inclino à fraca luz da janela para extravasar o desejo.
Do outro lado, tudo se calou.
Escureceu e é noite do lado de fora.
Mas, aqui dentro, é quente a madrugada de outono.
Esse segundo não tem preço.
Esse momento já é eterno.
Da cama, a tua respiração me chama.
Espera, amor, já vou.
Essa noite é longa e amanha é só o segundo dia.
II – Outono
Ah, se eu já te pudesse falar tudo o que é...
Haveria mais entre nós dois do que o tempo da minha vida.
Haveria mais entre nós dois do que algumas palavras perdidas.
Nesse outono, eu sou a primeira folha a cair aos seus pés.
E se você simplesmente resolver viver, passa por cima de mim.
Viver exige tempo e cuidado.
Folhas caídas pesam mais do lado de dentro.
Se eu soubesse, eu te diria. Mas eu nunca soube.
Há perguntas que se calam quando a boca quer gritar.
E tudo acaba se tornando uma eterna afirmação.
Eu posso te dizer que te quero à noite toda, e tu não responderás.
Posso te dizer que te quero olhando nos teus olhos e aguardar resposta.
E que reposta há? Entre nós, há pouco mais que algumas horas.
Será que eu corri tanto, que já vivi do teu lado e sozinho?
Eu corri. Mas eu achava que tu corrias também.
Já não sei. São primeiras impressões. Primeiros retratos.
E nem sempre confiáveis.
Ah, temos todo o tempo que quisermos, todo o tempo do mundo.
Eu quero tanto que não há tempo pra mais nada, às vezes.
Minha respiração talvez seja diferente da sua,
mas nossos corpos se encaixam.
E nada é melhor que dormir nos teus braços.
E que sei eu disso?
São duas noites. Nem dois dias. Algumas horas apenas.
E tantos sorrisos que me deste já.
O que eu faço com eles? O que quiser – me respondes.
O que eu quero? Eu quero os teus sorrisos.
Eu prometi te fazer feliz.
Você me pediu que eu te esperasse e eu esperei.
Sozinho e só teu, mesmo antes de haver um tu aqui.
E agora? Que queres fazer de mim?
Eu sou folha caída esperando uma mão que me recolha
e passo a noite acordado, pensando nessa mão.
Eu gostaria de dizer que já te entendo.
Eu gostaria de dizer que já te conheço.
Eu gostaria de dizer que já vivemos bastante, mas temos só algumas horas.
E não é que o tempo é infinito?
Nos seus segundos eu me perdi e me fiz perder.
Eu me perdi entre os seus sonhos e me encontrei nos seus olhos.
Me encontra também? Me procura. Me recolhe e desperta pra esse dia.
Hoje o sol nasce mais cedo pra nós dois.
Hoje o sol nasce no horário de sempre e eu só me importo com nós dois.
Me dá essa tua noite.
Me dá esse teu sonho.
Eu quero ser alimento pros teus sonhos e razão pra tua felicidade.
Apressado. Eu sei... mas eu achava que estávamos apressados juntos.
Só não me acorde e me diga que eu me enganei.
Não há engano naquilo que se sente.
O coração sabe a verdade e a razão a deturpa.
Sente meu coração batendo de encontro ao teu peito?
Não há mais nada.
Não fale nada, então. Só me deixe sentir suas mãos junto das minhas.
Só me deixe saber que corremos juntos.
Só me deixe acordar entre os teus braços.
Só me deixe acreditar, com as palavras sem letras que você quiser me mostrar,
que nós não erramos, nós não fugimos e nós nos demos uma chance.
Então viveremos, já que acreditas que o importante é deixar viver.
Deixemos viver. Deixemos o tempo decidir o amanha.
Mas hoje, hoje me diga, mesmo que sem palavras, que me queres aqui.
E eu ficarei.
Esse é o primeiro dia do nosso outono, a primeira estação da nossa era.
E tu me disseste que eu nunca mais dormiria sozinho.
Não, eu não quero ser teu fardo.
Eu quero ser teus sonhos.
III – Decepção
Foram só duas noites no seu abraço. E tu me disseste que eu nunca mais dormiria sozinho. Uma noite sem dormir e com seis horas de choro não diminuiu a perda do que nunca foi meu. Mais alguma sugestão?
Você não foi o maior dos meus amores, nem o melhor dos meus beijos, nem o mais feliz dos meus sonhos, nem a mais gostosa das minhas noites. E ainda assim, você é o que eu queria essa noite. Isso diz tanto. E eu duvido que você entenda algo. De tudo o que você poderia ter sido você só foi a minha maior decepção.
Henrique Rochelle Meneghini